Sol de fevereiro compensa janeiro nebuloso na energia solar

Share

O mês de fevereiro trouxe um cenário mais otimista para a geração de energia solar no Brasil. À partir da segunda semana do mês, uma área de alta pressão anômala em níveis médios da atmosfera e o deslocamento de um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) em direção ao interior do Brasil garantiram uma condição de tempo firme e a irradiância solar foi favorecida no Sudeste, grande parte do Centro-Oeste e desde a Bahia até o Rio Grande do Norte, abrangendo todo o interior do Nordeste.

Apenas algumas áreas entre o norte do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará registraram anomalias negativas de irradiação devido à atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e da borda do VCAN, que provocam nebulosidade mais persistente e aumentam o conteúdo de umidade ao longo de todo o mês, limitando a geração solar.

Entretanto, de modo geral, mesmo com as chuvas registradas no Sul do Brasil nos últimos dias, os dias ensolarados na primeira semana do mês têm sido suficientes para deixar a irradiação solar de aproximadamente 5 a 10% acima da média no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

O norte do Paraná, além do centro-sul e oeste paulista, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso também apresentam uma irradiância solar acima da média, com valores no geral entre 1% e 5%. Já no Vale do Paraíba, Espírito Santo, norte de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e interior do Nordeste, a irradiância pode ficar mais de 15% acima do normal no fechamento mensal, podendo chegar a até 30% pontualmente.

O contraponto para esta condição positiva para a irradiância solar que vale ser mencionado é que a mesma circulação atmosférica caracterizada pelo par alta anômala + VCAN faz com que as temperaturas máximas subam a valores muito acima da média para a época do ano (de 5 a 7°C acima), o que pode comprometer a conversão da irradiância em geração.

Ainda assim, as condições mais favoráveis à irradiação e energia solar ajudam a compensar um mês de janeiro bastante desafiador. A nebulosidade frequente formou um “cobertor” sobre os painéis fotovoltaicos, reduzindo o potencial de geração de energia por boa parte do país no primeiro mês do ano.

Irradiação observada em Janeiro de 2025.

Imagem: Tempo OK

Anomalia de irradiação em Janeiro de 2025.
Climatologia de Janeiro.

Em janeiro, as áreas que tiveram mais dias cobertos por nebulosidade são as regiões que registraram as maiores anomalias negativas de irradiação, como é o caso do Espírito Santo, metade norte de Minas Gerais e grande parte do Nordeste, com valores em torno de -1,2 kWh/m²dia.

A configuração de um episódio de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) com duração de dez dias (entre 6 e 15 de janeiro) gerou os maiores acumulados de precipitação nos subsistemas Norte e, principalmente, Nordeste, devido à influência da Oscilação de Madden-Julian (MJO) na fase 1, juntamente com o acoplamento da La Niña. O resultado foi a ocorrência de elevados volumes de chuva e anomalias negativas na irradiância solar.

No primeiro mês do ano, os acumulados de chuva foram anormalmente mais elevados em todos os estados do Nordeste, Tocantins, Pará, norte de Minas Gerais, Espírito Santo, norte de Goiás, Distrito Federal e algumas áreas do Mato Grosso, enquanto um padrão mais seco foi observado no Sul do país, maior parte do estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro, sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Os dados estimados na Plataforma Geração, da Tempo OK, mostram que na região de Horizonte, no oeste da Bahia, a geração solar durante o mês de janeiro não passou de 1000 GHI (Wh/m²) em nenhum momento do mês. O período mais crítico foi justamente durante a atuação da ZCAS, entre os dias 06/01/2025 e 15/01/2025, voltando a subir na última semana do mês. Esse aumento nos últimos dias de janeiro não foi suficiente para atingir a média de geração que seria normal para esta época do ano.

Geração de energia solar ao longo de Janeiro 2025 na região oeste da Bahia (Horizonte).

Com os bons resultados de fevereiro, as energias renováveis retomam o protagonismo no abastecimento do Sistema Interligado Nacional (SIN). Segundo dados da ONS, a energia solar contribuiu com mais de 11,5% para o abastecimento da demanda na última semana (8 a 14/2), atrás apenas das hidrelétricas. A energia eólica foi responsável por 10,9% da energia do SIN.

Sobre o autor:

Paulo Lombardi é meteorologista na Tempo OK e mestre em Meteorologia pela Universidade de São Paulo. É especialista em geração eólica, área que foi tema de sua pesquisa de mestrado (2022-2024), intitulada “Impacto da Oscilação de Madden-Julian na velocidade do vento na região Nordeste do Brasil”. Durante sua trajetória acadêmica, também desenvolveu pesquisas voltadas para modelagem da atmosfera, climatologia e sinótica, com ênfase no sistema monçônico da América do Sul

Os pontos de vista e opiniões expressos neste artigo são dos próprios autores, e não refletem necessariamente os defendidos pela pv magazine.

Este conteúdo é protegido por direitos autorais e não pode ser reutilizado. Se você deseja cooperar conosco e gostaria de reutilizar parte de nosso conteúdo, por favor entre em contato com: editors@pv-magazine.com.

Conteúdo popular

Membranas reflexivas maximizam a eficiência solar e reduzem custos em usinas fotovoltaicas
17 fevereiro 2025 A Albedo Power Flex traz ao mercado brasileiro membranas reflexivas desenvolvidas pela Azul Pack para usinas fotovoltaicas com módulos bifaciais, que...