A inclusão energética é um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico sustentável. Segundo a Agência Internacional de Energia, cerca de 685 milhões de pessoas no mundo ainda vivem sem acesso à eletricidade. No Brasil, a taxa de eletrificação supera 99%, mas comunidades isoladas da Amazônia e regiões vulneráveis ainda enfrentam dificuldades para garantir um suprimento elétrico confiável.
A energia solar fotovoltaica tem se consolidado como uma das principais soluções para ampliar o acesso à eletricidade de maneira sustentável. Com a redução dos custos e a possibilidade de instalação em locais remotos sem necessidade de uma infraestrutura elétrica complexa, essa tecnologia se mostra essencial para democratizar o acesso à energia. Nos últimos anos, a geração solar vem apresentando um crescimento acelerado no Brasil e no mundo, impulsionada por avanços tecnológicos, políticas públicas e modelos descentralizados de produção.
Energia solar e seus impactos no Brasil
No Brasil, a energia solar se tornou a segunda maior fonte da matriz elétrica, ficando atrás apenas da geração hidrelétrica. A capacidade instalada ultrapassou 37 gigawatts em 2023, e estimativas indicam que o país encerrou 2024 com aproximadamente 50 gigawatts. Esse avanço tem impacto direto na economia, atraindo mais de R$ 200 bilhões em investimentos e gerando cerca de 1,2 milhão de empregos desde 2012.
Além das grandes usinas solares, a geração distribuída tem se destacado, permitindo que residências, pequenos negócios e comunidades instalem seus próprios sistemas solares. Hoje, esse segmento já responde por cerca de 33,5 gigawatts da potência instalada no Brasil. A regulamentação do setor também avançou nos últimos anos, com a Lei nº 14.300/2022 garantindo mais segurança jurídica e previsibilidade para consumidores e investidores.
Expansão da fonte fotovoltaica no mundo
Globalmente, a energia solar continua sendo a fonte de eletricidade com crescimento mais acelerado. A Agência Internacional de Energias Renováveis estima que a capacidade instalada mundial de energia solar deve ultrapassar 1.500 gigawatts até 2025, representando um aumento médio de 22% ao ano. A China lidera esse setor, com mais de 500 gigawatts instalados, representando quase 40% da capacidade mundial. Nos Estados Unidos, 45% da nova capacidade elétrica adicionada em 2023 veio da energia solar, enquanto a União Europeia adicionou 56 gigawatts no mesmo período, um crescimento de 27% em relação ao ano anterior.
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Além desses mercados consolidados, novas regiões começam a ganhar relevância, como a Índia e partes da África Subsaariana, onde a eletrificação rural por meio da energia solar vem desempenhando um papel estratégico no combate à pobreza energética.
Energia solar e inclusão energética
A eletrificação de comunidades vulneráveis não se resume apenas à disponibilização da infraestrutura elétrica. É necessário garantir um fornecimento confiável, acessível e sustentável. A energia solar se destaca nesse contexto por ser uma tecnologia modular, permitindo sua aplicação desde grandes usinas até pequenos sistemas descentralizados. Além disso, os custos operacionais são baixos, uma vez que a geração fotovoltaica não depende da compra de combustível, ao contrário das termelétricas fósseis. Outro fator determinante é o impacto social da eletrificação solar em comunidades carentes, promovendo inclusão produtiva, geração de renda e capacitação profissional.
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No Brasil, iniciativas de geração compartilhada vêm ganhando espaço e possibilitando que diferentes consumidores se beneficiem da energia solar sem precisar investir individualmente em um sistema próprio. Atualmente, mais de 11 mil projetos desse tipo já estão em operação, permitindo que pequenos consumidores tenham acesso a eletricidade limpa e mais barata. Modelos como esse ampliam a inclusão energética e demonstram o potencial da energia solar para transformar a realidade de populações que ainda enfrentam desafios no acesso à eletricidade.
Apesar de todas as vantagens, desafios ainda precisam ser superados para que a energia solar alcance seu pleno potencial na inclusão energética. O investimento inicial para aquisição e instalação dos sistemas ainda é um obstáculo para muitas famílias de baixa renda, exigindo políticas públicas que facilitem o acesso ao crédito e incentivos financeiros. Em áreas remotas, a falta de infraestrutura e regulamentação específica também dificulta a implementação de projetos solares. Outro ponto crítico é a necessidade de capacitação técnica, uma vez que a expansão da geração distribuída requer mão de obra qualificada para instalação e manutenção dos sistemas.
Comparação de Custos de Geração de Eletricidade por Fonte (2024)
Fonte de Energia | Custo Médio (US$/MWh) |
Solar Fotovoltaica | 35 |
Eólica | 40 |
Hidrelétrica | 50 |
Biomassa | 55 |
Gás Natural | 75 |
Carvão | 85 |
Fonte: IRENA & IEA
Por outro lado, diversas oportunidades podem acelerar essa transformação. O crescimento dos programas de financiamento e incentivos governamentais, como o Fundo Clima do BNDES, tem permitido que projetos solares sejam viabilizados para consumidores de baixa renda. O avanço da tecnologia também abre novas possibilidades, com baterias mais eficientes e soluções híbridas combinando energia solar com armazenamento, aumentando a autonomia de comunidades isoladas. Além disso, políticas públicas como o Programa Luz para Todos e novas regulamentações para estimular a geração distribuída são fundamentais para garantir que a energia solar chegue a um número cada vez maior de pessoas.
A transição para uma matriz energética mais limpa e acessível depende de um esforço conjunto entre governos, setor privado e sociedade civil. A energia solar representa uma ferramenta poderosa para tornar esse processo mais inclusivo e sustentável. O Brasil, com sua abundância de recursos solares e experiência em energias renováveis, tem a oportunidade de liderar essa transformação. Projetos inovadores, parcerias estratégicas e políticas bem estruturadas podem garantir que a eletrificação solar beneficie um número ainda maior de pessoas, promovendo desenvolvimento socioeconômico e reduzindo desigualdades energéticas.
O avanço da energia solar não é apenas uma questão tecnológica ou econômica, mas também social. Expandir o acesso a essa fonte renovável significa melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas, garantindo não apenas eletricidade, mas oportunidades. Investir nessa transição é investir em um futuro mais justo, sustentável e acessível para todos.
Para os profissionais do setor fotovoltaico, investidores e formuladores de políticas que acompanham a transição energética, o momento é de consolidação e novas oportunidades. A rápida evolução tecnológica e o amadurecimento regulatório abrem espaço para soluções inovadoras que tornam a energia solar ainda mais acessível e integrada às redes elétricas inteligentes. Modelos de negócios como comunidades solares, armazenamento distribuído e microrredes estão ganhando força, criando um ecossistema mais dinâmico e resiliente. O Brasil e o mundo caminham para uma era em que a geração descentralizada e o empoderamento do consumidor serão pilares da matriz energética. Cabe aos atores do setor liderar esse movimento, promovendo projetos escaláveis, novas fontes de financiamento e políticas públicas eficazes para garantir que a energia solar alcance seu máximo potencial.
Sobre o autor:
Fernando de Lima Caneppele é professor associado na Universidade de São Paulo (USP) e atua com foco em Energia, Transição Energética e Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS7).
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