Energia Sem Fronteira: lições do Brasil e do Mundo para Combater a Pobreza Energética

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A pobreza energética é um desafio que afeta milhões de pessoas no mundo, limitando o acesso à educação, saúde e desenvolvimento econômico. No Brasil, mesmo com o sucesso do programa Luz para Todos, que levou eletricidade a mais de 16 milhões de pessoas, a região amazônica continua sendo a última fronteira, onde a falta de energia perpetua desigualdades.

O mundo está repleto de exemplos de sucesso na transição para uma energia mais acessível, sustentável e inclusiva. Países como Quênia, Índia e Bangladesh implementaram soluções inovadoras e escaláveis. Este artigo explora esses casos e como o Brasil pode, com sua riqueza natural e protagonismo, liderar a agenda global de justiça energética.

O Brasil como líder global: Luz para Todos

 O Brasil possui um dos maiores e mais emblemáticos programas de inclusão energética do mundo, o Luz para Todos, que desde 2003 transformou a vida de mais de 16 milhões de brasileiros ao garantir acesso à energia elétrica. Este programa é mais do que uma solução técnica: é um marco de inclusão social e desenvolvimento, reconhecido internacionalmente como um exemplo de política pública eficaz. Com sua recente prorrogação até 2026, o Luz para Todos foca agora nos desafios mais complexos, reafirmando o Brasil como protagonista global na agenda de justiça energética.

A ultima fronteira: Amazônia Legal

 Apesar do sucesso do programa, a Amazônia Legal permanece como a fronteira mais desafiadora da eletrificação. Com uma geografia intrincada, marcada por rios extensos, florestas densas e comunidades ribeirinhas isoladas, expandir a rede de transmissão nessa região exige soluções criativas e recursos significativos.

Os custos logísticos para transportar materiais e equipamentos, como postes e cabos, são elevados, e as condições climáticas adversas aumentam a complexidade das operações. Além disso, muitas comunidades estão situadas em áreas protegidas ou de difícil acesso, onde projetos off-grid, como micro-redes solares e sistemas híbridos, poderiam ser alternativas mais viáveis.

A falta de energia não é apenas uma barreira física, mas uma perpetuação de desigualdades históricas. Sem eletricidade, as comunidades enfrentam limitações severas: escolas que não podem operar plenamente, unidades de saúde sem refrigeração para medicamentos e famílias incapazes de conservar alimentos ou acessar tecnologias básicas.

Oportunidade para inovação

A Amazônia representa não apenas um desafio, mas uma oportunidade para o Brasil inovar. Soluções descentralizadas, como sistemas solares com armazenamento, e parcerias público-privadas são estratégias que podem levar energia de forma sustentável a esses territórios, consolidando o país como um líder na transição energética inclusiva.

Imagem: Acervo Energia Sem Fronteira

Imagem: Acervo Energia Sem Fronteira

Lições globais no combate à pobreza energética

1. Quênia: Microrredes solares e inclusão

O Quênia é referência em energia solar descentralizada, com iniciativas como as microrredes que atendem comunidades remotas. Empresas como a M-KOPA oferecem sistemas solares domésticos com financiamento acessível via dispositivos móveis, conectando mais de 1 milhão de famílias à energia limpa. A integração tecnológica com modelos de pagamento simples garante viabilidade econômica e impacto social imediato.

2. Índia: escala e acessibilidade

Na Índia, o programa “Saubhagya” destacou-se pela ambição de eletrificar todas as residências rurais do país. A integração de cooperativas solares e políticas de subsídios tornou possível levar energia para mais de 28 milhões de famílias. Esses projetos não apenas reduziram a exclusão energética, mas também fortaleceram a economia local, mostrando como políticas públicas robustas podem transformar realidades.

3. Bangladesh: soluções descentralizadas

O Grameen Shakti, em Bangladesh, é um caso exemplar de energia renovável descentralizada. Desde sua criação, o programa instalou mais de 4 milhões de sistemas solares domésticos, utilizando um modelo de financiamento que permite que até famílias de baixa renda tenham acesso. Além disso, o treinamento de técnicos locais garantiu a sustentabilidade das operações e criou empregos.

4. Peru: energia off-Grid na Amazônia

Na Amazônia peruana, o programa “Luz en Casa” combina energia solar com soluções off-grid para levar eletricidade a comunidades indígenas isoladas. O projeto é um exemplo de como tecnologias simples, como baterias solares, podem melhorar a qualidade de vida, permitindo a iluminação noturna e a operação de pequenos eletrodomésticos.

5. África do Sul: cooperativas energéticas

Na África do Sul, as cooperativas de energia desempenham um papel fundamental na inclusão energética, especialmente em áreas rurais. Modelos comunitários de gestão, alinhados com políticas de incentivo governamental, garantem energia a preços acessíveis, fortalecendo a coesão social e a autonomia local.

Transformando realidades: o papel do Energia Sem Fronteira

 O Energia Sem Fronteira atua como um facilitador entre comunidades, projetos e iniciativas que promovem a justiça energética. Inspirados por cases globais, nosso foco é:

  • Educação e conscientização: promover o debate sobre justiça energética e compartilhar conhecimento técnico.
  • Conexão de projetos: unir iniciativas locais e globais que podem ser replicadas em comunidades brasileiras.
  • Fomento à Inovação: incentivar soluções tecnológicas que sejam viáveis, acessíveis e escaláveis.

A pobreza energética é um desafio global, mas com soluções locais inspiradas por cases de sucesso, é possível transformá-la. O Brasil, com o programa Luz para Todos e iniciativas como o Energia Sem Fronteira, pode não apenas superar suas próprias barreiras, mas também inspirar mudanças globais, mostrando que energia é um direito universal.

Autor: Marcelo Rodrigues é o cofundador do projeto Energia Sem Fronteira, um grupo de trabalho cujo objetivo é contribuir para que a energia seja realmente sem fronteiras, seja geográfica, tecnológica ou financeira. Criado em 2020, já acompanhou inúmeros projetos no combate à pobreza energética. Mentor de iniciativas que promovem o armazenamento e uso eficiente de energias renováveis, o executivo é vice-presidente de Negócios, Marketing e Inovação na UCB Power, uma das maiores empresas de soluções de energia do Brasil e cofundador da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (Absae).

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