A Envol Energy Consulting vê uma continuidade do crescimento da geração solar em 2025, embora em um ritmo mais moderado que o observado nos últimos anos.
Há três fatores impulsionando o crescimento da geração solar distribuída em 2025: a queda do preço dos equipamentos, da ordem mais de 80% nos últimos 10 anos, de acordo com a Irena; a alta da tarifa regulada de energia, de 9% entre 2023 e 2024, que força a geração distribuída como alternativa para o consumidor mitigar custos; e os novos modelos de negócio, como leasing de sistemas e comunidades energéticas.
Por outro lado, a alta do dólar e as taxas de juros pressionam o segmento, ainda muito dependente de financiamento. Novamente, alguns novos modelos de negócios, podem solucionar essa barreira para o consumidor final, como o aluguel dos equipamentos. Mas as empresas que oferecem esse serviço também precisarão lidar com esses fatores.
Na geração centralizada, o mercado deve continuar crescendo, após acrescentar mais de 5 GW de capacidade em 2024. Esse avanço foi impulsionado pela abertura do Mercado Livre, pela redução de custos dos equipamentos e pela escalabilidade dos projetos. “O crescimento da demanda também vai depender muito de incentivo de reindustrialização no país. Enquanto a gente tiver sobreoferta de energia, a geração centralizada vai enfrentar dificuldades de se viabilizar”, disse à pv magazine o sócio e diretor de Estudos de Mercado da Envol Energy Consulting, Gustavo Franceschini. “Caso o Brasil enfrente dificuldades internas para desenvolver armazenamento e não resolva as restrições de rede, pode perder o rimo de integração de novas tecnologias e a oportunidade de atrair uma nova cadeia produtiva”, ele acrescenta.
Oportunidades para armazenamento
O executivo avalia que os desafios para ambos os segmentos de geração solar têm soluções. No caso da sobreoferta de energia, resultado da expansão acelerada da matriz elétrica com incentivos para renováveis e do crescimento de demanda abaixo do esperado, que tem levado ao “vertimento” renovável — quando a geração excede ou a capacidade de consumo ou a capacidade de transmissão em horários específicos do dia —, a solução está na modernização e expansão de transmissão e distribuição, com investimento em redes inteligentes, armazenamento próximo ao local de consumo e junto à rede, que ajuda a suprir a demanda nos horários de maior consumo.
O armazenamento em baterias ainda tem custos altos no Brasil e tem como desafios a falta de uma regulação e de uma remuneração adequada para serviços como estabilidade de rede e atendimento à demanda no horário de pico. Um marco regulatório, incentivos a projetos híbridos e financiamento incentivado podem acelerar o desenvolvimento desse mercado.
“É necessário adotar novas tecnologias para aumentar a resiliência e a segurança energética e mitigar o impacto ambiental”, diz Franceschini. “A Aneel está dando abertura para o mercado contribuir para acelerar a adoção da tecnologia propondo regras que serão analisadas pela agência. E o leilão de reserva de capacidade para armazenamento pode dar mais clareza ao mercado sobre os preços que remuneram esses projetos”.
Enquanto as soluções de armazenamento não forem viáveis, vai ser necessário contratar mais térmicas, avalia o executivo, para manter a segurança de suprimento do sistema elétrico.
Desenvolvimento sustentável e transição energética podem atrair até R$ 275,3 bilhões
A Envol estima que políticas de desenvolvimento sustentável e estímulo à transição energética no setor produtivo podem promover um crescimento na demanda de energia elétrica de 3,1% a 6% ao ano entre 2028 e 2034. Em cenário de crescimento moderado, os investimentos adicionais em geração de energia eólica e solar estão previstos em R$ 163,6 bilhões; em cenário de crescimento acelerado, podem chegar a R$ 275,3 bilhões.
O Brasil ampliou em 2024 o seu compromisso de redução de emissões de gases de efeito estufa para até 67%, até 2035, em relação aos níveis registrados em 2005. A transição energética e a reindustrialização verde estão no centro da estratégia rumo à neutralidade de carbono até 2050, ao lado da conservação das florestas tropicais. Para implementar essa agenda, o necessário alinhamento do país a megatendências como eletrificação da sociedade, armazenamento de energia, hidrogênio verde, veículos elétricos, recursos energéticos distribuídos, entre outras, pode impulsionar investimentos da ordem de R$ 275,3 bilhões de reais, segundo estudos da Envol Energy Consulting, consultoria de energia que inicia atividades no Brasil.
“Políticas de desenvolvimento sustentável tendem a elevar o consumo per capita de energia elétrica no Brasil para um nível mais próximo ao de países desenvolvidos”, explica Alexandre Viana, CEO da Envol. Esta foi a premissa para um estudo com base em três cenários. “A análise consolidada dos investimentos em geração de energia renovável aponta um total de R$ 328,4 bilhões no cenário atual, sem a implementação de políticas de reindustrialização verde; mas, com a promoção de um novo ciclo industrial no país, uma neoindustrialização alinhada à eletrificação, à transição energética e à descarbonização, a expectativa de investimentos é de R$ 492 bilhões no cenário de crescimento moderado e de R$ 603,7 bilhões no cenário de crescimento acelerado”, destaca o executivo.
Investimentos em geração de energia renovável
O cenário atual tem como referência a carga utilizada na contabilização da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), com o crescimento seguindo as taxas esperadas no Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2034: para o horizonte 2025-2028, um crescimento da demanda de 2,8% ao ano, enquanto entre 2029-2034 o crescimento esperado seria de 3,1% ao ano. Os investimentos previstos, considerando-se esse contexto, é de R$ 328,4 bilhões em geração de energia solar fotovoltaica e eólica no Brasil.
Considerando a trajetória adotada com o Marco Legal do Hidrogênio (Lei nº. 14.948/24), o país implementará nos próximos dois anos mais políticas com alcance no Setor Elétrico Brasileiro, como também em demais setores da economia, para uma reindustrialização verde. Nesse sentido, destacam-se os projetos de lei em tramitação para regulamentação das usinas eólicas offshore e do armazenamento de energia, entre outros temas considerados megatendências na transição energética, tais como os recursos energéticos distribuídos, os veículos elétricos e a eletrificação de processos industriais.
Devido ao tempo natural de maturação de políticas estruturantes, o estudo desenvolvido pela Envol considera que o crescimento do consumo per capita e total deverá seguir até o ano de 2027 a taxa prevista no PDE 2034. Entretanto, a partir de 2028, um ciclo de crescimento mais acelerado de consumo teria início. Com base em um modelo matemático com abordagem “top-down”, o estudo considera que o Brasil começaria um processo de convergência para o consumo per capita dos países desenvolvidos. A análise adota a média de consumo dos países do G-20 como referência – isso significa um consumo per capita de 5.275 kWh/ano, sendo que o nível brasileiro atual é de 3.200 kWh/ano (considerando consumo no grid e a geração distribuída).
O cenário moderado considera um ritmo de crescimento que objetiva atingir 5.275kWh/ano no longo prazo (2052), porém no final do ciclo de análise (2034) o consumo está em 4.778 kWh. Para atender à demanda, a expectativa de investimentos é de R$ 492 bilhões – um valor adicional de R$163,6 bi em relação ao cenário atual.
Caso o Brasil adote fortemente uma agenda de reindustrialização verde, a atração de investimentos pode ser ainda maior. “Quando os grandes atores internacionais nas esferas governamental, tecnológica e empresarial planejam e pensam em transição energética ou em como promover megatendências energéticas visando tornar a sociedade mais eficiente, naturalmente consideram o Brasil como um mercado chave”, afirma Viana.
No cenário de crescimento acelerado, também elaborado a partir de modelo matemático, consumo per capita de energia elétrica estaria em 5.123 kWh em 2034, e chegaria perto do consumo de referência ao redor de 2040. A demanda projetada seria de 128 GW e o total de investimentos esperado, de R$ 603,7 bilhões – R$ 275,3 bilhões acima do cenário atual.
Regulação terá papel estratégico
A regulação de temas como hidrogênio verde, armazenamento de energia, recursos energéticos distribuídos e outros visando uma estrutura que atraia investimentos, sem onerar excessivamente o consumidor ou o contribuinte, será um dos grandes desafios do setor elétrico nos próximos anos.
“O Brasil possui tradição em regulação, tendo como exemplo os investimentos em geração: com uma regulação considerada de boa qualidade para os padrões internacionais, o segmento de geração instalou mais capacidade instalada na era de leilões e mercado livre do que em toda a história prévia do setor”, destaca Viana. “Levar em conta este exemplo para estruturar a regulação das novas tecnologias será fundamental, porém cuidados devem ser tomados com encargos e subsídios”, alerta o executivo.
Além de impulsionar investimentos em fontes renováveis de energia, o protagonismo do Brasil na transição energética e a agenda de reindustrialização verde têm demandado também, estudos de mercado, análises e serviços de consultoria em diversos níveis. A Envol Energy Consulting, fundada por Alexandre Viana, iniciou atividades no Brasil neste mês, com a perspectiva de posicionar-se entre as três principais empresas do segmento em três anos.
“O mercado de consultoria em energia tem crescido globalmente, porque a pressão internacional em prol da transição energética e a rápida evolução tecnológica estão dinamizando os sistemas elétricos e transformando os mercados”, afirma Viana. Segundo empresas globais de pesquisa de mercado, esse segmento deve movimentar US$ 17 bilhões em 2024, mundialmente. O Brasil representa uma fatia importante desse montante, por conta da segurança jurídica e das condições favoráveis à geração renovável.
A consultoria está estruturando a equipe de pesquisa de mercado que irá desenvolver os modelos de análise a partir de dados públicos como Aneel, CCEE, com projeções de preços, olhando para todos os segmentos do setor de energia, incluindo geração, distribuição e consumo para dar mais assertividade nas decisões de seus clientes.
Este conteúdo é protegido por direitos autorais e não pode ser reutilizado. Se você deseja cooperar conosco e gostaria de reutilizar parte de nosso conteúdo, por favor entre em contato com: editors@pv-magazine.com.
Ao enviar este formulário, você concorda com a pv magazine usar seus dados para o propósito de publicar seu comentário.
Seus dados pessoais serão apenas exibidos ou transmitidos para terceiros com o propósito de filtrar spam, ou se for necessário para manutenção técnica do website. Qualquer outra transferência a terceiros não acontecerá, a menos que seja justificado com base em regulamentações aplicáveis de proteção de dados ou se a pv magazine for legalmente obrigada a fazê-lo.
Você pode revogar esse consentimento a qualquer momento com efeito para o futuro, em cujo caso seus dados serão apagados imediatamente. Ainda, seus dados podem ser apagados se a pv magazine processou seu pedido ou se o propósito de guardar seus dados for cumprido.
Mais informações em privacidade de dados podem ser encontradas em nossa Política de Proteção de Dados.