O setor solar brasileiro, que enfrenta desafios técnicos e regulatórios que impactam diretamente seu crescimento e competitividade, poderá se deparar com desafios ainda maiores após a eleição de Donald Trump. Entre os principais pontos estão a taxação americana sobre os produtos chineses, o impacto dos cortes de geração (curtailment) e a pressão global por mudanças no mercado. Internamente, há a necessidade de aprovação do PL 624 para corrigir a inversão de fluxo e as brechas da Lei 14.300, o marco regulatório do setor.
Para compreender o que se pode esperar para 2025, a pv magazine conversou com o diretor do Grupo Colibri, Jonas Becker, que analisa essas questões e aponta soluções estratégicas para destravar o potencial da energia solar no Brasil.
PL 624: peça-chave para resolver a inversão de fluxo
Logo de início, Becker destaca a importância crucial do Projeto de Lei (PL) 624 para o avanço do setor. Segundo o executivo, essa legislação é essencial para corrigir as interpretações equivocadas decorrentes da Lei 14.300. “A inversão de fluxo é uma questão técnica, não econômica. O que está acontecendo é uma análise econômica, e isso precisa ser resolvido com urgência, pois está bloqueando o desenvolvimento do setor. E o caminho natural é via projetos de leis, pois não conseguimos avançar no tema com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, afirma o executivo.
A inversão de fluxo ocorre quando a energia gerada por fontes distribuídas, como sistemas fotovoltaicos, ultrapassa o consumo local e é enviada de volta à rede. No entanto, distribuidoras têm adotado uma postura restritiva, gerando perdas significativas. Becker afirma que, no Ceará, estima-se que o impacto chegue a R$ 500 milhões em faturamento, devido aos cortes impostos.
A lentidão na aprovação de mudanças no setor também está atrelada a questões climáticas. “No Brasil, o setor elétrico é pautado pela chuva. A velocidade das agências e do Congresso está muito atrelada ao nível dos reservatórios. Então, isso tudo pode mudar muito rápido”, destaca o executivo.
Entraves no crescimento do mercado solar no Brasil
A inversão de fluxo não impacta apenas a dinâmica técnica do setor, mas também seu crescimento econômico. Becker observa que a questão tem travado especialmente pequenos projetos residenciais, responsáveis por cerca de 70% da geração distribuída no Brasil. Além disso, programas como o Minha Casa Minha Vida, com grande potencial para fomentar o mercado solar, enfrentam dificuldades estruturais para avançar.
O cenário internacional também influencia o mercado nacional. A política comercial agressiva dos EUA contra produtos chineses e o movimento semelhante da Europa afetam a competitividade global. “Por mais que o Trump venha numa pegada de óleo e gás, além de aumentar ainda mais a taxação sobre as empresas chinesas, é preciso que muita coisa ande em paralelo para que essas empresas da China resolvam focar os investimentos em países da América Latina. As linhas de transmissão, os data centers, os projetos de hidrogênio verde, tudo isso precisa avançar para que haja suporte para a energia solar, e para que ela seja cada vez mais sustentada pela infraestrutura do país”, detalha o diretor.
Becker ainda prevê que a guerra de preços vai continuar, o que impactará muito os distribuidores. “O pessoal está vendendo bem, mas pela metade do preço que vendeu um dia, com uma margem cada vez mais apertada. O mercado pede que os preços se estabilizem, mas eu não vejo isso mudando”, afirma.
Para que este cenário de entraves mude, Becker sugere que a questão das baterias precisa ser fortalecida no Brasil. Além disso, o executivo destaca a necessidade da fabricação de células para baterias em solo nacional, além de aproximação das indústrias.
Curtailment: um desafio técnico com soluções estratégicas
O curtailment, ou corte na geração de energia renovável, é outro desafio apontado por Becker. No Ceará, 16% da energia gerada em parques solares foi cortada em novembro de 2024, mesmo com plena capacidade técnica para produção. “Isso ocorre por questões de segurança da rede. A solução mais natural é colocar mais carga próxima à geração ou expandir as linhas de transmissão”, explica.
Becker enfatiza que o curtailment é um problema técnico, não político, e precisa de soluções alinhadas com o crescimento da infraestrutura de transmissão no Brasil. Contudo, ele alerta que os cortes, combinados com a falta de planejamento, comprometem o potencial de crescimento do setor no curto prazo.
Apesar dos desafios, o diretor do Grupo Colibri mantém um tom otimista em relação ao futuro da energia renovável. “A energia solar vai crescer mundialmente, independentemente da política. Mesmo um governo conservador projeta que a geração distribuída no Brasil passará de 31 GW em 2024 para 58 GW em 2034. Esse crescimento será suportado pela profissionalização do setor e pela maturidade que estamos conquistando”, conclui.
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