Oportunidades para arranjos agrovoltaicos no Brasil

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Uma abordagem relativamente nova no setor solar global, as instalações agrovoltaicas podem trazer diversos benefícios para a produção de energia e a produção agrícola. Mas essas oportunidades precisam ser testadas e validadas. Nesta entrevista à pv magazine, o líder de Sistemas Agrivoltaicos do Fraunhofer ISE, Oliver Hörnle, fala sobre as tendências globais para a tecnologia e as oportunidades no Brasil, destacando o potencial de redução de consumo de água e de pesticidas.

Oliver Hörnle, do Fraunhofer ISE.

Quais são as principais tendências globais em agrovoltaica e como elas podem ser aplicadas no contexto brasileiro?

O setor agrovoltaico está crescendo globalmente, no entanto ainda é uma nova abordagem tecnológica com várias incógnitas que podem influenciar a criação de tendências globais. No entanto, pode-se dizer que, para vários casos, a prova de conceito, mesmo para instalações de grande escala, poderia ser feita. A energia agrivoltaica pode reduzir o consumo de água em até 50%, pode servir como prevenção de granizo/geada por radiação, dependendo do projeto, e aumentar significativamente a eficiência do uso do solo, especialmente em regiões de estresse hídrico e conflitos espaciais. Vários países europeus como a Alemanha, a França e a Itália estão prestes a desenvolver diretrizes e regulamentos para a agricultura fotovoltaica, incluindo subsídios.

Para o Brasil, a agrivoltaica oferece um espectro diversificado de aplicação, pois as zonas climáticas e as práticas agrícolas também são diversas. Pode ser utilizado como substituto de medidas de proteção fitossanitária em horticultura intensa, túneis de alumínio ou integrado em estufas.

Na produção de culturas básicas em grande escala, pode ser utilizado com sistemas de passo baixo com cultivo nas entrelinhas para reduzir o consumo de água e a erosão eólica. Na pecuária poderia ser aplicado como medida de sombreamento para os animais. Nas sociedades agrícolas rurais fora da rede, em zonas de stress hídrico, a energia agrivoltaica pode servir como facilitador para a agricultura, mas também para o desenvolvimento social, fornecendo uma fonte de eletricidade. O efeito positivo para a agricultura é geralmente maior nas áreas com problemas agrícolas como seca, radiação excessiva ou geadas e granizo.

Quais os principais desafios técnicos e econômicos para a implementação de sistemas agrovoltaicos?

A agrovoltaica é tão diversa quanto a própria agricultura. Isso torna mais difícil desenvolver produtos e aplicações padronizados. Vários agricultores cultivam de forma diferente, com máquinas de tamanhos diferentes, etapas de trabalho e utilização de pesticidas. Isso exigiu mais esforço de engenharia em comparação com a energia fotovoltaica padrão para espaços abertos. No entanto, é uma tecnologia jovem, pelo que as tendências globais de aplicação serão formadas com o aumento da experiência e dos dados provenientes de projetos de pesquisa. O maior desafio econômico é a desvantagem de custo em relação à energia fotovoltaica padrão. Devido às estruturas especiais e às vezes aos módulos especiais, o custo é superior ao fotovoltaico padrão. Os efeitos do aumento dos rendimentos fotovoltaicos e das poupanças no lado agrícola não foram ainda suficientemente pesquisados para fornecer informações bancárias precisas que possam ser utilizadas de forma mais geral e não apenas para projetos individuais.

Quais são os benefícios holísticos dos sistemas agrovoltaicos? Eles contribuem para a sustentabilidade e a segurança alimentar?

Os benefícios holísticos são a produção de energia renovável, possíveis poupanças no consumo de água, possíveis poupanças na utilização de pesticidas e temos várias indicações de que a aplicação de agrovoltaicos pode melhorar a saúde e a produtividade do solo, no entanto, isto necessita de mais testes para validar antes que os benefícios possam ser claramente definidos. Em termos de segurança alimentar no contexto brasileiro, o principal fator é o aumento da resiliência à seca, que pode ter um impacto direto na segurança alimentar durante as secas.

Como a integração da energia solar com a agricultura pode impactar a produtividade agrícola?

Pode influenciá-lo severamente em qualquer direção. Se não for planejado cuidadosamente, com conhecimento da necessidade de luz das culturas/rotações de culturas, o rendimento pode perder-se completamente. Se bem concebido, o rendimento também pode ser aumentado significativamente. Como tendência, a agrivoltaica estabiliza o microclima, quando está frio costuma ser menos frio embaixo da instalação, se estiver quente costuma ser menos quente no sistema agrivoltaico, o que pode ser um benefício dependendo da necessidade da planta. De modo geral, as plantas que têm uma alta demanda de luz (tipo de metabolismo C4, como o milho) lucram menos em termos de produtividade em comparação com culturas tolerantes/amantes da sombra (tipo de metabolismo C3, como frutas vermelhas).

Como a agrovoltaica pode ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas no setor agrícola brasileiro?

As secas são um problema crescente no Brasil, especialmente porque o Nordeste enfrenta a seca mais severa em 40 anos. A agrovoltaica reduz a evapotranspiração e oferece potencial para poupança de água >20% na Europa Central. O potencial para o Brasil é maior, mas ainda não foi validado. Os módulos também podem ser usados ​​para coletar água da chuva durante os meses mais secos, aumentando assim a resiliência e a sustentabilidade da agricultura. A degradação da terra e a erosão eólica também podem ser influenciadas positivamente. Atualmente existe um piloto de reflorestamento para sistemas agrivoltaicos que está sendo pesquisado para avaliar o uso de energia fotovoltaica para revitalizar solos degradados e regenerar vegetação. Dependendo do resultado isso pode ter grande potencial para ser aplicado no Brasil.

As comunidades rurais brasileiras podem se beneficiar economicamente com a adoção de sistemas agrovoltaicos?

Sim, de maneiras diferentes. Se forem os operadores/proprietários dos sistemas, podem criar fluxos de rendimentos mais diversificados, tornando as comunidades rurais menos susceptíveis às consequências dos fluxos de rendimentos individuais. Particularmente nas zonas afectadas pela seca, o sistema agrivoltaico pode salvar a colheita para os agricultores, pelo menos na área do sistema. Para as comunidades rurais que não têm acesso a electricidade fiável, o agrivoltaico pode servir de núcleo para pequenas e grandes empresas fora da rede. ou sistemas semi-off grid. Substituindo diversas funções manuais por soluções eletrificadas, a comunidade tem mais tempo livre para ser criativa em outros modelos de negócios. Mas mesmo que o mecanismo seja implementado e propriedade de outros intervenientes, pode criar co-benefícios se for bem regulamentado e planeado. Este modelo aplicar-se-ia preferencialmente em projectos de escala de utilidade pública e tem de ser bem cuidado, para que o sistema seja planeado de uma forma que não afecte a prática agrícola e reduza o rendimento num âmbito tolerável.

Oliver Hörnle é um dos palestrantes que estarão presentes 360 Solar, evento que discutirá o futuro da energia solar no Brasil. O 360 Solar será realizada nos dias 7 e 8 de novembro, em Florianópolis, Santa Catarina. Saiba mais e cadastre-se aqui.

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