Embora o predomínio tenha sido de sol e tempo seco, a irradiação solar em agosto de 2024 apresentou redução significativa, de até 20%, em várias regiões do Brasil devido à fumaça das queimadas. De acordo com dados do meteorologista Jorge Rosas, especialista em transferência radiativa da Tempo OK, o fenômeno afetou diretamente a geração de energia solar fotovoltaica. Rondônia, Acre, Amazonas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foram os estados mais afetados pela quantidade de poluentes. Os cinco estados somam aproximadamente 2,5 GW de potência instalada dessa fonte em projetos de geração distribuída.
A alta concentração de partículas suspensas na atmosfera, conhecida como aerossóis, foi o principal fator para essa queda. “É como se uma nuvem densa e constante estivesse presente sobre as áreas atingidas pelas queimadas durante todo o mês”, explica Rosas.
O impacto na geração de energia solar foi mais intenso no Norte e no Centro-Oeste do país, por estarem diretamente ligados ao acúmulo de material particulado na atmosfera. No Rio Grande do Sul, a redução na irradiação esteve associada tanto à nebulosidade que foi variável durante agosto, quanto ao excesso de aerossóis das queimadas transportados pelos ventos. Já no leste da Bahia, houve pouca influência de aerossóis das queimadas, e a diminuição da irradiação solar se deve à cobertura de nuvens.
A climatologia de irradiação solar varia entre 5.5 e 6 em Rondônia, no Acre, no sul do Amazonas e no oeste de Mato Grosso e de 4.5 a 5.5 no oeste de Mato Grosso do Sul. No entanto, os valores registrados ao longo do mês ficaram em entre 4 e 5 , uma redução de aproximadamente 20% com relação à média.
Impacto da fumaça na atmosfera
A Profundidade Óptica do Aerossol (AOD, na sigla em inglês) define a capacidade da atmosfera de atenuar a radiação solar devido à presença de aerossóis. Esse valor é adimensional e está relacionado com a concentração de aerossóis de maneira geral. Varia de 0 (sem aerossol) até valores que, em casos específicos, podem ultrapassar 3. Valores de AOD acima de 0,5 podem limitar a visibilidade à longa distância e afetar a qualidade do ar.
A nível de comparação, na Região Metropolitana de São Paulo a concentração de poluentes é alta na maior parte do ano, devido aos carros e as indústrias e os valores de AOD ficam em torno de 0,5, que já é um indicativo de poluição significativa.
“O produto de AOD do GOES-16 é determinado pelo satélite GOES, usando os dados de reflectância espectral em pixels onde não há presença de nuvens. Observado no mapa, uma extensa região com valores e regiões que podem inclusive passar de 2 de AOD, e no estado de São Paulo valores acima de 1, mostrando o transporte da fumaça das queimadas”, afirma Rosas.
Dias mais críticos do mês: 28, 29, 30 e 31 de agosto
Os dias mais críticos aconteceram na última semana do mês, principalmente entre 28 e 31 de agosto. Na média do mês, a AOD atingiu 1.2 (valor extremamente alto) no sul do Pará, do Amazonas, em Rondônia e no Acre. Nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, em São Paulo e nos estados do Sul, os valores oscilaram entre 0.4 e 1 (moderado a alto).
O padrão de concentração de poluentes se manteve com maior intensidade entre os estados de Rondônia, Amazonas e Acre, sendo transportada para estados do Centro-Oeste, do Sudeste e da região Sul.
O aumento de queimadas, impulsionado pelo calor e pela seca prolongada, contribuiu para uma maior concentração de fumaça na atmosfera. Dados do monitoramento de queimadas, utilizando as plataformas FIRMS e GOES-16, revelam uma alta concentração de calor e fumaça na metade norte do Brasil durante agosto.
Comparado com 2023, o mês de agosto de 2024 teve um aumento de pelo menos 40% no número de queimadas entre o Centro-Oeste e o Norte do Brasil. O estado que registrou o aumento mais expressivo foi Mato Grosso do Sul, que passou de 239 para 4.648 focos registrados em 31 dias. E a maior quantidade de incêndios foi registrada em Mato Grosso, com 14.617 registros.
As imagens abaixo mostram um panorama das primeiras semanas de setembro. No período entre os dias 07 a e 11 de setembro, a passagem de uma frente fria ajudou a limpar um pouco o ar. Já, a partir do dia 12, o branco da imagem no Sudeste e em Mato Grosso do Sul que a frente fria ajudou a limpar o ar, mas o fenômeno durou pouco dias.
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