Para viabilizar o seu potencial de produção de hidrogênio verde, o Brasil precisaria dobrar a sua capacidade de geração de energia elétrica até 2040, menciona a sócia e Head de Consultoria da CELA, Marília Rabassa, nessa entrevista para a pv magazine. Uma parte significativa dessa expansão deve vir da fonte fotovoltaica, considerando que a energia elétrica corresponde a 80% do custo de produção do hidrogênio verde e que a fonte oferece um dos menores preços de geração no país.
Apesar dos investimentos anunciados para a exportação do hidrogênio verde, especialmente de hubs ligados aos portos no litoral, a demanda interna também será crucial para viabilizar os primeiros projetos, avalia a especialista. Segundo um estudo recém-lançado pela consultoria CELA, a amônia verde produzida no país, essencial para descarbonizar a indústria agrícola, por exemplo, já é mais competitiva que a amônia cinza, produzida com hidrogênio a partir de fontes fósseis.
Confira a entrevista:
Existem diversas rotas de produção para o hidrogênio, com diferentes fontes e tecnologias. Como a fotovoltaica está posicionada para disputar essa futura demanda?
O negócio do mercado de hidrogênio é que ele precisa de tanta energia, de forma constante, que existe possibilidade para diversas fontes renováveis entrarem nesse mix. A solar, como uma das fontes mais baratas do sistema elétrico brasileiro, tem um grande potencial de pegar uma grande parte desse mercado, sempre associada com outras fontes, porque ninguém vai ganhar esse jogo sozinho, né?
E é essencial para que esse mercado de hidrogênio se viabilize que a energia seja extremamente barata. Esse é um atributo que a solar traz. O hidrogênio, 80% do seu custo é proveniente da energia elétrica, então o produtor precisa buscar as alternativas que tenham o menor custo de energia mesmo.
Existem profissionais qualificados para atual nesse setor? Quais são os profissionais mais demandados nesse estágio de desenvolvimento?
O mercado de hidrogênio é, basicamente, uma indústria química. E o Brasil sim possui por profissionais qualificados na indústria química. Obviamente que precisa ser feito um treinamento específico para a produção do hidrogênio em grande escala, como a gente está estimando que será o mercado brasileiro. Mas não necessariamente faltam pessoas. O que a gente precisa atualmente é ficar no desenvolvimento desses projetos, então, engenharia, para dimensionar as plantas, viabilidade financeira, jurídico para fazer a estruturação dos negócios, dos contratos. Esse é o tipo de profissional que vai ser mais demandado aí nos primeiros anos. Depois que passar a construção, aí a gente vai precisar de gente também para a operação e manutenção dessas unidades.
Os projetos já anunciados frequentemente estão mirando a exportação da produção. Existe também uma demanda interna para absorver a produção desses projetos e quais são as oportunidades para a indústria brasileira também se descarbonizar?
Sem dúvida existe uma demanda interna, inclusive na CELA a gente acredita que essa demanda interna é que vai viabilizar os primeiros projetos. Trazendo alguns detalhes de estudos que a gente faz, todo ano a gente publica nosso Custo Nivelado de Hidrogênio e esse ano a gente publicou o custo nivelado da amônia também. E a amônia é usada para diversas aplicações, inclusive a amônia verde, como por exemplo fertilizantes, e hoje a gente vê que o custo da amônia verde produzida aqui no Brasil é competitivo com a amônia cinza em outros lugares do mundo.
Essa já é uma oportunidade. O fertilizante é um produto que o Brasil importa muito de outros países, quase não produz. É, exatamente, uma oportunidade para o Brasil se reindustrializar. Outra oportunidade é, por exemplo, para produção de aço verde que você pode usar o hidrogênio diretamente na produção do aço e criar uma indústria mais sustentável aqui no Brasil. Existem diversas aplicações, o mercado de uma forma geral é bem abrangente e pulverizado, mas saiba que todas as aplicações que usem amônia diretamente nas indústrias já podem ser viáveis com a amônia verde a partir de hidrogênio verde.
Qual tamanho esse mercado pode tomar nos próximos anos?
Existe a estimativa de que, se uma parte dos projetos for desenvolvida, se a gente conseguir desenvolver o mercado interno e o mercado de exportação também, até 2040 a matriz elétrica do Brasil teria que dobrar [para atender a demanda]. Então isso significa muito investimento em renováveis, muito investimento em transmissão de energia, porque o nosso sistema interligado precisa estar saudável, e também no transporte de hidrogênio, em toda a infraestrutura auxiliar. A gente tem uma grande missão para o futuro, para que esse mercado deslanche.
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