Intersolar 2024 marca resiliência do mercado fotovoltaico e expectativa de integração de novas tecnologias

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A edição de 2024 da Intersolar South America, realizada na semana passada em São Paulo, Brasil, mostrou a forte resiliência do mercado fotovoltaico brasileiro, apesar dos problemas bem conhecidos que todos os países estão enfrentando atualmente em termos de excesso de capacidade, pressão sobre preços e consolidação.

O evento não só aumentou em termos de metros quadrados, mas também nas tecnologias que exibiu, já que dois novos pavilhões foram inteiramente dedicados ao armazenamento e à eletromobilidade.

“O evento registrou mais de 650 expositores, aproximadamente 55.000 visitantes e cerca de 2.500 participantes da conferência”, disse Florian Wessendorf, diretor administrativo da organizadora do evento, Solar Promotion International GmbH, à pv magazine. “No ano passado, tivemos cerca de 550 expositores e para este ano tínhamos como meta cruzar o limite de 600.”

“Quanto aos expositores, tivemos este ano mais participação internacional do que no ano passado. Em termos de metros quadrados, eu diria que 55% de empresas internacionais e 45% brasileiras”, acrescentou Wessendorf. “Essa é uma tendência interessante, pois no ano passado foi bem o oposto. No entanto, considerando a consolidação atual na indústria, não excluímos que isso possa ser revertido no ano que vem.”

O tamanho e o sucesso do evento refletem claramente a forte trajetória do mercado fotovoltaico brasileiro, que viu a implantação de cerca de 10 GW em 2023 e agora espera ver outros 10 GW a 12 GW este ano.

Desafios no curto prazo

Até o final de 2023, a Absolar projetava que seriam adicionados 9 GW da fonte solar em 2024, mas a expansão deve ser de 11 GW, de acordo com o presidente do Conselho de Administração da associação, Ronaldo Koloszuk, que participou da abertura da Intersolar no dia 28/08. A perspectiva de longo prazo é muito favorável, mas há desafios que preocupam no curto prazo. 

Na geração centralizada há uma frequência maior, desde o pagão ocorrido em agosto de 2023, nos cortes de geração centralizada, que pode chegar a 80% da energia esperada no caso de alguns geradores. Os cortes ocorrem principalmente durante o final de semana, quando o consumo tende a ser menor.

A Absolar estima que os impactos acumulados dos cortes de geração impostos pelo ONS chegam a aproximadamente R$ 300 milhões. Recentemente, a Voltalia disse que estima em € 40 milhões o impacto dos cortes de geração renovável no ebitda da empresa em 2024. O ressarcimento de geradores pela energia que deixa de ser gerada por restrições do sistema de transmissão ainda não está solucionado. Apenas alguns casos específicos têm previsão de ressarcimento.

Mas no longo prazo, superada essa barreira, a tendência é de aumento no consumo de energia elétrica, com a eletrificação da energia e a descarbonização da economia, diz Koloszuk. 

Na geração distribuída, de forma similar, há alegações de saturação da rede para novos sistemas, com a indicação constante por parte das concessionárias de inversão de fluxo de potência para negar novos pedidos de conexão. “A cada 100 unidades consumidoras no país, apenas quatro são abastecidas com solar. Na Austrália, são 30. Então ainda há muito espaço para crescer. Empresas que estão começando hoje ainda vão ser muito grandes”, disse Koloszuk. 

Após uma regulação considerada insuficiente para resolver o problema, as associações do setor vêm apostando em solução legislativa como a proposta no projeto de lei 624/2023, que altera a lei 14.300 para definir que as distribuidoras não poderão limitar a injeção de energia elétrica de sistemas de microgeração (até 75 kW) sem apresentar estudos técnicos que demonstrem a necessidade dessa limitação. 

Uma coalizão foi criada para defender e negociar a proposta no Congresso, incluindo a participação de entidades como a Confederação Nacional do Agronegócio e o SEBRAE.

Metas estabelecidas em políticas públicas

Mesmo com os desafios de conexão na geração centralizada e distribuída, a fonte solar segue crescendo no Brasil, acompanhando um movimento global.

Até o final de 2023, a fonte solar acumulava 1.581 GW globalmente, sendo 407 GW adicionados só em 2023. Em 2024, pode chegar a 2 TW, com a adição de mais 544 GW. Até 2028, devem ser 5,1 TW acumulados. 

Esse crescimento é possível porque a fonte fotovoltaica está mais competitiva em mais aplicações onde antes a conta não fechava, como as flutuantes e agrovoltaicas. 

Neste contexto, o Brasil chegou ao sexto lugar capacidade acumulada de geração solar no início de 2024 e foi o terceiro país que mais adicionou capacidade instalada, com 15,4 GWp (12 GW em corrente alternada). 

Apesar de ter conquistado esse posicionamento, o país ainda ainda não tem políticas públicas com metas específicas para a participação das fontes renováveis na matriz, destacou o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, na abertura da Intersolar 2024. A associação sugere que Brasil poderia atingir 100% de eletricidade renovável até 2030 e estabelecer metas para limpar a matriz energética como um todo, para além da matriz elétrica.

“Precisamos equilibrar os pratos dessa balança, para acelerar. Enquanto a máquina pública estiver apoiando os combustíveis fósseis, elas vão ter mais força. Os incentivos para as renováveis, tanto para geração distribuída quanto para os grandes projetos, têm previsão legal para acabar. Os incentivos para as fontes fósseis não têm previsão de acabar”, comentou Sauaia. 

Ele sugere que os segmentos e setores que tiveram acesso aos subsídios primeiro deveriam deixar de ter antes das fontes mais recentes. “Os atributos ambientais das fontes ainda não foram valorados. A gente precisa incluir isso, que já está previsto em lei e o prazo era 2022”, recorda. 

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