Na disputa pelos Data Centers

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A digitalização e a inteligência artificial (IA), com demanda crescente por capacidade de processamento de dados, têm impulsionado o número de data centers no mundo, com consequente aumento na demanda de energia. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o consumo global de eletricidade por data centers atingiu 460 TWh em 2022, podendo aumentar para até 1.050 TWh até 2026. O mercado global de data centers, avaliado em US$ 329,3 bilhões em 2023, deve chegar a US$ 438,6 bilhões até 2028, com um crescimento anual composto (CAGR) de 6,6%.

O Brasil se posiciona para aumentar a sua participação nesse mercado por possuir uma matriz elétrica majoritariamente renovável, acima de 90%. A abundância de água, outro insumo demandado para o resfriamento dos centros de processamento de dados, também pode ser um diferencial do país para atrair novos investimentos. Além disso, a localização geográfica do Brasil, próxima ao Chile, o maior produtor mundial de cobre, é estratégica, já que o cobre é um material crítico para aplicações elétricas em data centers e geração de energia renovável.

Atualmente, o mercado de data centers no Brasil é avaliado em US$ 4,6 bilhões, representando 1,4% do mercado global, segundo um estudo realizado pelo Santander. Espera-se que este valor cresça a uma taxa anual composta de 7,1% até 2028, alcançando US$ 6,5 bilhões. 

Em termos de capacidade, os data centers no Brasil possuem atualmente 777 MW em operação, 472 MW em construção e 468 MW planejados, totalizando 1,7 GW, de acordo com a JLL Research. Segundo um mapeamento do Ministério de Minas e Energia (MME), a demanda de energia dos data centers no Brasil pode chegar a 2,5 GW até 2037, considerando 12 novos projetos em São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará, que estão buscando acesso à rede de transmissão de energia elétrica do Brasil. 

Segundo o MME, o valor médio de capex por MW gasto para data centers no Brasil é de cerca de R$ 36 milhões (aproximadamente US$ 7 milhões), o que significa que passar da capacidade atual de menos de 1 GW para 2,5 GW representaria mais de R$ 54 bilhões em investimentos (US$ 10 bilhões) até 2037. 

Mas há outros investimentos não mapeados de outros estados. A Um Telecom, por exemplo, uma empresa de infraestrutura digital com uma rede de fibra óptica de mais de 22.000 km no Nordeste, indo do Maranhão à Bahia, investiu em um novo data center em Pernambuco para atender a crescente demanda de dados na região. 

A companhia, que pertence ao mesmo grupo que controla a distribuidora de equipamentos solares Connectway, já tem uma usina solar própria em São Caetano, Pernambuco, de 500 kW. 

“Nossa usina atual atende a demanda interna da Um Telecom, mas com o aumento da demanda com o novo data center, planejamos duplicar a capacidade da usina. Além disso, consideramos o mercado livre de energia para complementar nossa necessidade com fontes renováveis”, conta à pv magazine o CEO da companhia, Rui Gomes.

Grandes empresas de tecnologia também estão atentas ao potencial do Brasil. A AWS investiu em um complexo solar no Ceará e em um projeto eólico no Rio Grande do Norte. A Microsoft assinou um contrato de 15 anos com a AES Brasil para fornecimento de energia renovável. A Ascenty, maior provedora de data centers da América Latina, compra energia renovável no mercado livre.

“O investimento em data centers no Brasil é estratégico não apenas para atender a demanda interna, mas também para exportar serviços, aproveitando nossa capacidade de geração de energia verde”, comenta Gomes.

O Brasil possui um potencial significativo para se tornar um centro global de data centers, graças à sua matriz energética limpa e disponibilidade de água. No entanto, também enfrenta desafios para suportar a expansão do mercado de data centers, como a infraestrutura das redes de transmissão e distribuição, que precisa ser melhorada para atender à demanda por disponibilidade de energia constante, o que também pode reforçar o uso de baterias.

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