Após vários estudos, a Lecar, que se apresentou como uma montadora de carros elétricos brasileira, anunciou sua desistência deste segmento. A avaliação da empresa é que “a grandiosidade dos carros elétricos era muito mais um sonho do que uma realidade benéfica para o mercado. Por mais que as contribuições destes modelos ao meio-ambiente sejam indiscutíveis, na prática, a prevalência deste nicho pode trazer mais transtornos do que verdadeiras soluções à mobilidade”, segundo comunicado à imprensa.
Agora, a empresa irá se dedicar à construção de carros híbridos flex movidos a etanol sem tomada de carregamento. De acordo com a empresa, uma outra tomada está sendo desenvolvida para que a bateria do veículo alimente fontes externas.
Fundada em 2022 e com capital 100% próprio, sua proposta sempre foi desenvolver um produto totalmente pensado para o Brasil. Seu primeiro modelo projetado, o LECAR 459, foi desenvolvido com base na matriz do agronegócio brasileiro: o etanol. “Com ele, 80% das emissões de CO2 de um motor a combustão são compensadas com o seu próprio cultivo, o que fez com que priorizássemos essa matéria-prima perante um uso mais eficiente do veículo pela população”, explica o fundador da empresa, Flávio Figueiredo Assis.
O protótipo, inclusive, recebeu, em abril deste ano, placa verde para começar a ser testado. A expectativa inicial era de que chegasse ao mercado em meados de dezembro deste ano. Esse plano será revisto com a mudança do projeto. “Ao longo do período de desenvolvimento do carro, dos testes feitos e estudos internacionais já publicados, chegamos à conclusão de que o carro híbrido é mais vantajoso para a sociedade do que o elétrico em diversos quesitos, o que nos fez redirecionar nosso posicionamento e os planos para o mercado. A ideia, agora, é que nossa tecnologia híbrida flex a etanol com tração 100% de motor elétrico, proporcione 1 mil km com 30 litros de etanol. Temos o primeiro carro elétrico sem tomada do mundo”, enfatiza Assis.
O custo da infraestrutura é uma das maiores barreiras. O preço de um carregador rápido gira em torno de R$ 1 milhão. E, apesar da venda de elétricos estar aquecida no Brasil, a rede de recarga não evolui na mesma proporção. “Estamos muito longe de termos a quantidade de carregadores necessária para popularizar este tipo de veículo em todo o país. Precisaremos de bilhões em investimentos para termos as condições adequadas”, lamenta.
A empresa acredita que a mesma precariedade é notada tecnologicamente. Mesmo que, atualmente, tenhamos motores e baterias mais modernos, o conceito do carro elétrico é o mesmo desde 1890: uma bateria recarregável que alimenta um motor elétrico. As células de baterias, assim como os motores, têm limites tecnológicos que estão chegando ao seu auge.
Todos esses pontos fazem com que, por mais que haja uma grande oferta de carros elétricos excelentes, comercializar e manter esses modelos não traga um real custo-benefício ao mercado e ao consumidor. É nítido que esses são veículos mais propícios para ambientes urbanos e que, portanto, fazem sentido apenas para um grupo específico de uso – tais como motoristas de táxi e aplicativos, ônibus e caminhões.
Há uma forte tendência de que este se torne um recurso transitório na sociedade, o que acende a importância de prestarmos atenção a outras opções mais viáveis em termos de acesso à população, como o híbrido, de acordo com a empresa. “Temos ótimas alternativas de híbridos atualmente no mercado, mas por preços não tão acessíveis. Por isso, nossa nova missão, a partir de agora, será reverter essa realidade, trazendo modelos híbridos muito mais aderentes à realidade brasileira e que caibam no bolso da população, contribuindo para uma verdadeira revolução inovadora na mobilidade nacional”, finaliza, otimista, o fundador.
A Lecar segue trabalhando em seu protótipo e, em breve, deve anunciar sua nova expectativa de chegada ao mercado.
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