Vendas de VEs caminham para ano recorde, mas metas climáticas estão em risco, afirma BloombergNEF

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O estudo Long-Term Electric Vehicle Outlookd da BloombergNEF mostra que a adoção de veículos elétricos ainda está crescendo, apesar das perspectivas mistas de curto prazo. O novo relatório indica que a rápida queda dos preços e os avanços na tecnologia de baterias, além da economia dos veículos elétricos continuam a sustentar o crescimento global em longo prazo. No entanto, o relatório indica que a janela zerar as emissões de gases de efeito estufa é agora mais estreita do que nunca.

O relatório apresenta dois cenários atualizados: Cenário de Transição Econômica (ETS), no qual a adoção de veículos elétricos é moldada pelas tendências tecnoeconômicas atuais e sem nova intervenção política, e o Cenário Net Zero (NZS), que tem objetivo de alcançar uma frota global de emissão zero até 2050.

No caso base do ETS, as vendas de veículos elétricos continuam a aumentar globalmente, embora o crescimento tenha desacelerado nos EUA e na Europa como resultado de mudanças regulatórias e políticas, e algumas montadoras adiando suas metas de eletrificação da frota.

O relatório também mostra que os veículos elétricos não são mais apenas um fenômeno de países ricos, e países como Tailândia, Índia e Brasil estão experimentando vendas recordes à medida que mais modelos elétricos de baixo custo são lançados. Em 2024, de janeiro a maio, os emplacamentos de veículos leves eletrificados aumentaram 149%, saindo de 26.014 em igual período de 2023 para 64.908, segundo a ABVE. De acordo com as projeções da BNEF, as vendas de veículos elétricos no Brasil devem quintuplicar até 2027 e triplicar na Índia no mesmo período.

A China, líder mundial em veículos elétricos, não está olhando para trás e, apesar dos primeiros sinais de saturação de alguns segmentos de veículos elétricos e de uma perspectiva econômica mais dura, o país deve manter sua liderança como o maior mercado global de VEs.

A tecnologia para a eletrificação continua melhorando, os preços das baterias continuam caindo e a adoção de veículos elétricos deixa de ser orientada por políticas para ser impulsionada pela demanda do consumidor em todos os mercados. No cenário mais conservador (ETS) , espera-se que as vendas de veículos elétricos de passageiros excedam 30 milhões em 2027 e cresçam para 73 milhões por ano em 2040, contribuindo com 33% e 73% para as vendas globais de carros nesses anos, respectivamente.

Até 2050, no cenário Net Zero, são necessários cerca de 8.313 TWh de eletricidade para alimentar uma frota de veículos totalmente elétricos. Apesar do grande crescimento na demanda de eletricidade, os veículos elétricos podem ajudar na eletrificação do sistema de energia por meio de carregamento inteligente, já que os operadores de rede aplicam preços variáveis e outros mecanismos para incentivar a flexibilidade.

A indústria de carregamento demandará entre US$ 1,6 trilhão e US$ 2,5 trilhões em investimentos acumulados, incluindo instalação e manutenção, até 2050, dependendo do cenário.

Mercado de eletrificação do transporte deve atingir US$ 9 trilhões até 2030 no caso base

A BNEF também constata que a eletrificação está se espalhando rapidamente para todos os setores do transporte rodoviário. As vendas de veículos de duas e três rodas continuam a aumentar nas economias emergentes e as vendas de elétricos devem exceder 90% globalmente até 2040. A descarbonização do setor de veículos comerciais – incluindo vans, caminhões e ônibus – já começou e deve acelerar.

O valor acumulado das vendas de veículos elétricos em todos os segmentos pode atingir US$ 9 trilhões até 2030 e US$ 63 trilhões até 2050 no ETS da BNEF. Pelo menos US$ 35 bilhões precisam ser investidos em fábricas de células de bateria e componentes até o final da década, embora isso seja facilmente superado pelos US$ 155 bilhões já planejados pelas empresas.

O excesso de capacidade é um grande problema para os fabricantes de baterias. A capacidade de fabricação de células de íons de lítio até o final de 2025 é mais de cinco vezes a demanda global esperada de baterias, de 1,5 TWh. Mas a demanda anual de baterias de lítio deve crescer rapidamente, aproximando-se de 5,9 TWh por ano até 2035.

As baterias de lítio-ferro-fosfato (LFP) estão tomando conta do mercado de veículos elétricos. As melhorias na tecnologia devem aumentar a sua participação de mercado, particularmente na China, onde os preços das células caíram rapidamente para US$ 53/kWh até agora este ano. A LFP deve ultrapassar 50% de participação no mercado global de VEs nos próximos dois anos.

Caso base não atinge zero emissões até 2050

Apesar do progresso, o transporte rodoviário global ainda não está no caminho certo para uma trajetória de zero emissões. Enquanto o NZS da BNEF pede que 100% da frota de carros de rua seja eletrificada até 2050, o caso base ETS só alcança 69% no mesmo ano.

O cenário Net Zero exige uma transição muito mais rápida. Em 2035, no caso base, haverá 476 milhões de VEs na estrada, aumentando para 722 milhões em 2040, representando 45% da frota. No cenário de zero emissões, são 679 milhões e 1,1 bilhão, respectivamente. v

Atualmente, apenas um segmento do transporte rodoviário – veículos de três rodas – está no caminho certo para atingir zero emissões até meados do século. Os veículos pesados e médios são os mais distantes desse objetivo: os trens elétricos e a célula de combustível de hidrogênio representam apenas 18% das vendas globais de caminhões até 2030 e 43% até 2040 – e mesmo isso representa uma mudança significativa para a indústria.

“Os fabricantes de caminhões estão prestes a passar por uma rápida transformação tecnológica graças a metas ambientais rígidas na Europa e nos EUA. A velocidade dessa mudança será sem precedentes para a indústria, mas atender a um cenário alinhado a Paris requer uma produção ainda mais rápida de veículos com emissão zero”, afirmou o chefe de transporte comercial da BNEF, Nikolas Soulopoulos.

Os caminhões pesados elétricos são atualmente usados principalmente circulação urbana, mas sua economia melhora também para longas distância e, por volta de 2030, deve se aproximar das motorizações a diesel.

De acordo com o cenário de zero emissões, para que o mundo alcance uma frota de veículos com emissão zero até 2050, as vendas dos modelos à combustão precisarão parar por volta de 2038, com os principais mercados precisando eliminar gradualmente os veículos a combustão ainda mais cedo, no início da década de 2030.

“Os governos que tentam defender a fabricação doméstica ao custo de uma descarbonização mais rápida devem considerar com muito cuidado o que estão priorizando, já que atingir emissões zero no transporte rodoviário até 2050 ainda é possível, mas é necessário um progresso muito mais rápido”, relatou a chefe de veículos elétricos da BNEF, Aleksandra O’Donovan.

As vendas de veículos de combustão interna já atingiram o pico, em 2017, e em 2027 estarão 29% abaixo do ápice. A análise econômica indica que os VEs são o principal método de descarbonização do transporte rodoviário. Mesmo assim, os híbridos podem desempenhar um papel significativo no curto prazo, em particular em mercados com regras de eficiência de combustível cada vez mais rigorosas. A adoção híbrida atinge entre 5% e 45% das vendas até 2030, dependendo do mercado.

Taxa de crescimento desaceleram

As vendas globais de VEs continuam a crescer, mas a taxa de crescimento nos próximos anos deve ser mais lenta do que antes. Nos próximos quatro anos, as vendas de carros elétricos crescem em média 21% ao ano no cenário de transição econômica, ante a média de 61% entre 2020 e 2023. A participação dos VEs nas vendas globais de veículos novos salta de 17,8% em 2023 para 33% em 2027. Apenas China (60%) e Europa (41%) estão acima dessa média global até então.

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