Quase 200 países assumiram compromissos coletivos durante a COP28, em Dubai, inclusive o de triplicar a capacidade global de geração de energia renovável até ao final desta década para manter ao alcance o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C neste século.
Um novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) destaca que embora a energia renovável esteja no centro das metas internacionais, poucos países estabeleceram metas em linha com este objetivo, e o Brasil está entre eles.
Intitulado Promessa de triplicar a capacidade renovável na COP28: Acompanhando as ambições dos países e identificando políticas para preencher a lacuna (COP28 Tripling Renewable Capacity Pledge: Tracking countries’ ambitions and identifying policies to bridge the gap), a análise abrangeu quase 150 países em todo o mundo e analisou, além das NDCs, também as políticas e planos energéticos dos países.
Segundo o estudo, as metas climáticas dos países (as contribuições nacionalmente determinadas, ou NDCs) atualmente apontam para 1300 gigawatts (GW) de expansão – apenas 12% do que é necessário. Quando se leva em conta os planos e políticas energéticas nacionais, o cenário melhora: 8000 GW de aumento até o fim da década, mas ainda apenas 70% do necessário para triplicação, que corresponde a 11 mil GW. Por isso, o texto afirma que é a hora dos países atualizarem suas metas climáticas para refletir os planejamentos energéticos já em curso e para manter no horizonte o compromisso assumido em Dubai.
O relatório da IEA revela que o Brasil está a caminho de adicionar 195 GW de capacidade renovável até 2030, um valor significativo que manteria o país ainda entre os líderes renováveis globais, mas muito abaixo de triplicar sua capacidade atual – seria uma expansão de apenas 1,3 vezes. A América Latina – onde as energias renováveis já representam mais de 60% da geração de eletricidade – espera aumentar sua capacidade instalada de renováveis em 1,4 vezes até o fim da década, média levemente maior do que a projeção brasileira.
A dificuldade do Brasil tem a ver com o fato de o país já ter um mix elétrico bastante renovável e de grande porte. Por exemplo, se todos os países latino-americanos concretizarem as suas aspirações para 2030, a região geraria novos 450 GW, 39% a mais do que em 2022, com Brasil, Chile, Argentina e México respondendo por quase 80% dessa meta. Dentro desta participação, o Brasil responde por quase 50%, seguido pelo México e depois pelo Chile, que pretende expandir sua capacidade renovável em 2,5 vezes, o maior fator de crescimento entre esses quatro países.
“Este relatório deixa claro que a meta é ambiciosa, mas alcançável – embora apenas se os governos transformarem rapidamente as promessas em planos de ação”, afirmou o diretor executivo da IEA, Fatih Birol. “Ao cumprir os objetivos acordados na COP28 – incluindo triplicar as energias renováveis e duplicar as melhorias na eficiência energética até 2030 – os países de todo o mundo têm uma grande oportunidade para acelerar o progresso rumo a um sistema energético mais seguro, acessível e sustentável”.
Entre as recomendações da Agência para que a meta seja cumprida, estão a aposentadoria antecipada de termelétricas e contratos flexíveis para essas usinas, além de eletrificação do transporte e dos sistemas de aquecimento. Isso diminuirá a demanda por combustíveis fósseis, elevando o uso de eletricidade renovável na economia como um todo.
Maiores economias
A China responde por quase metade de toda a expansão renovável projetada de 8000 GW com base nos planos e políticas atuais dos países. A Agência destaca que a escala e a velocidade da expansão da capacidade renovável no país asiático serão cruciais para o ritmo geral da implantação global nesta década. A China ainda não publicou uma meta explícita de capacidade renovável total para 2030, mas a análise indica que o país deve ultrapassar sua meta para 2030 de 1.200 GW de energia solar fotovoltaica e eólica já este ano. As estimativas do relatório, levando em conta as tendências de implantação mais recentes, indicam que a capacidade chinesa em 2030 deverá ser 2,5 vezes maior do que foi em 2022.
As políticas e os planos atuais nas economias avançadas indicam uma quase duplicação de sua capacidade renovável até 2030 – representando quase 40% da ambição global. Isso é liderado pelos países europeus, que contribuem com um quinto do total global. Juntos, os Estados Unidos e o Canadá têm a ambição de instalar cerca de 1.000 GW de capacidade renovável até 2030, ou 13% da ambição global.
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