A EY, empresa com foco em consultoria e auditoria, realizou nos últimos anos o Energy Transition Consumer Insights, um estudo que ouviu mais de 100 mil consumidores em 21 países, incluindo o Brasil, com o objetivo de compreender valores, consumo, preferências e compromisso com a energia. O recorte global indica que três a cada quatro consumidores investiram seu tempo e esforço para serem sustentáveis e aproximadamente 30% afirmam estar dispostos a investir mais tempo e dinheiro em ações de energia sustentável.
“O sucesso da transição energética no mundo passa diretamente pelo comportamento do consumidor”, afirma o sócio de Business Consulting da EY Brasil, Miguel Leão. O estudo mostra que 70% dos resultados esperados de transição dependerão da mudança de consumo, comportamentos e estilos de vida dos consumidores.
Contudo, as ações e iniciativas dos consumidores estão diretamente relacionadas ao custo e a viabilidade desse gasto. “Para 84% das pessoas entrevistadas globalmente, a energia faz parte do orçamento de despesas domésticas e 72% dizem não conseguir absorver um aumento de 10% na conta”, explica o executivo. Em contrapartida, os consumidores continuam interessados em novas fontes de energia, produtos e serviços, como por exemplo energia solar e veículos elétricos. Entretanto, ao mesmo tempo dois terços dos consumidores dizem que não investirão nisso nos próximos três anos.
O envolvimento dos consumidores precisa ser uma prioridade para atingir as metas climáticas e de transição energética, avalia Leão. “Por enquanto, grande parte do foco está em novos ativos de energia e atualizações de infraestrutura. Agora, precisamos dar mais um passo, no qual os consumidores lideram o caminho para a transição energética.”
Ao analisar o recorte Brasil do estudo, é possível observar algumas peculiaridades locais. “Aqui vemos uma baixa alfabetização energética, ou seja, apesar do foco da mídia e das empresas que atuam em todo o ecossistema do setor elétrico, a compreensão do consumidor permanece baixa”, explica Leão. Menos de um terço compreende os termos-chave utilizados para comunicar a transição energética e 30% dos consumidores não conhecem alternativas de investimentos em energia que podem fazer em direção à sustentabilidade
Trazendo para a agenda ESG, 81% dos brasileiros dizem que é responsabilidade do fornecedor de energia ser sustentável e oferecer opções de sustentabilidade. “Os fornecedores de energia são vistos como uma das fontes mais confiáveis de orientação aos consumidores sobre energia, sustentabilidade e aquisição de produtos e serviços energéticos, e espera-se que desempenhem esse papel “de educação energética”, pontua o executivo.
EY Energy Consumer Confidence Index (ECCI)
Outro insight trazido no estudo é o Índice de Confiança do Consumidor de Energia (ECCI), que mede a confiança atual dos consumidores no mercado global e na transição energética, além do otimismo sobre a direção que está tomando. E esse índice engloba oito fatores principais: estabilidade do negócio do fornecedor de energia; valor criado pelo fornecedor de energia para o consumidor e a comunidade; apoio do regulador/governo a uma transição energética justa e equitativa; capacidade de acessar opções de energia limpa; acessibilidade dos custos de energia; melhoria do bem-estar como resultado da mudança para energias renováveis; capacidade de investir mais tempo e dinheiro para ser mais sustentável no uso de energia; e ações pessoais para usar a energia de forma mais sustentável e fazer a diferença.
O índice de confiança vai de 0 a 100 e a média global é 58,7. O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking com 68,6. O top 3 é formado respectivamente por China (76), Indonésia (72,2) e Malásia (69,4). “O fato de o Brasil estar nas primeiras posições globais do ranking, de um lado confirma que há um grande espaço para desenvolvimento e crescimento de novos modelos de negócios em todos os elos da cadeia, sejam públicos, privados ou mistos. E, ao mesmo tempo, também representa um grande desafio às autoridades no que tange ao desenvolvimento de políticas públicas, incentivos, modelos tarifários e investimentos adequados de forma a tornar a energia limpa acessível à todas as classes da população. Orquestrar essas agendas é um grande desafio, e uma grande oportunidade”, comenta Leão.
Perfis de consumidores
O estudo da EY identifica cinco perfis principais: campeões, entusiastas, novatos, espectadores e aliados. Os campeões e entusiastas são receptivos e altamente engajados, fizeram mudanças significativas aos seus estilos de vida para serem mais sustentáveis. Os dois primeiros perfis demonstram ter conhecimentos dos temas de energia, e preferem os canais digitais para adquirir novos produtos, serviços e relacionamento com as distribuidoras. Já dentro da categoria dos entusiastas, 75% permitiriam a utilização de dispositivos inteligentes para auxiliá-los em ações de economia de energia e são mais propensos à mídia online para obter informações. Especificamente no caso do Brasil, este tipo de perfil – os entusiastas – representa a maior parte da população, o que reforça ainda mais a importância da orquestração das agendas mencionadas acima.
Já os novatos são os mais resistentes a mudanças e em grande parte, também são agnósticos em termos de energia, possuem níveis mais baixos de conhecimento sobre ações que podem realizar para poupar dinheiro e energia. Eles apresentam níveis mais baixos de interesse em energias renováveis, energia solar doméstica e veículos elétricos, por exemplo.
Já os espectadores têm um perfil mais resistente aos aspectos da transição energética, bem como às empresas em todo o elo da cadeia de energia.
Por fim, os aliados são mais propensos a sentir que são impedidos de participar na transição energética devido à sua situação de vida ou rendimento e disseram que os produtos e serviços atuais não atendem às suas necessidades. Desses, cerca de 80% dizem que estão fazendo tudo o que podem ao seu alcance para serem sustentáveis e acreditam que o fornecedor de energia deve liderar a transição energética.
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