Os desenvolvimentos recentes da tecnologia de usinas solares flutuantes estão tornando a tecnologia mais competitiva, avalia o CEO da KWP Energia, Ediléu Cardoso Jr. A companhia é uma das responsáveis pela instalação da UFF Araucária, de 7 MWp instalada na represa Billings, em São Paulo.
Apesar de, no mundo, a solar flutuante ter se desenvolvido como uma solução para mercados com pouca disponibilidade de terrenos, o que não é o caso brasileiro, a tecnologia tem outras vantagens que podem ser absorvidas no país.
“Em toda região metropolitana do mundo tem um reservatório de abastecimento para as cidades e há oportunidade de colocar ali uma geração próxima ao centro de consumo. Só a represa da Billings tem 10.500 hectares, em uma área, no centro de São Paulo, em que os terrenos são mais caros e há uma demanda concentrada de energia”, disse Cardoso Jr. Ele adiciona que a instalação das flutuantes pode ainda evitar a supressão de solo e terraplanagem dos terrenos, além de entregar outras externalidades positivas para os reservatórios.
Com investimento inicial de R$ 30 milhões, a UFF Araucária tem capacidade para produzir até 10 GWh e tem 7 MW pico de potência instalada, com 5 MW de potência de conexão e painéis fotovoltaicos instalados sobre flutuadores de polietileno de alta densidade. De acordo com Cardoso, em dois meses foi possível construir 90% da usina.
Em sociedade com a EMAE, responsável pela represa que abastece a grande São Paulo, a KWP formou a empresa Universo Fotovoltaico, que aluga a usina para os clientes, no modelo de geração compartilhada.
Ao todo, a Emae, companhia responsável pela represa, habilitou 112 MWp de projetos flutuantes em suas chamadas públicas, que utilizaram 0,7% da superfície da Billings. No total, serão construídos 80 MW na represa, segundo Cardoso.
Ele destaca que o desenvolvimento tecnológico permite gerar mais energia ocupando a mesma área. “Há alguns anos, precisávamos de 1 hectare para instalar 1 MWp. Hoje, com um hectare instalamos 1,4 MWp”, disse o executivo. “A flutuante está vivendo o que a solar de solo viveu há alguns anos, rampando, com a cadeia se estruturando aqui no Brasil.”
O custo de instalação da solar flutuante está entre o das usinas fixas e o das com usinas com trackers, um pouco mais caras que as primeiras e um pouco mais baratas que as últimas. “O capex está em torno de R$ 4,5 milhões o MWp, em média, dependendo do painel”, comenta Cardoso. A tecnologia tem uma vantagem na geração de energia em comparação com as usinas de solo fixas, de aproximadamente 15%, por causa do efeito de resfriamento dos módulos instalados sobre corpos d’água.
Olhando para além dos centros urbanos, a KWP vem mantendo conversas para aplicação das flutuantes nos açudes do Nordeste, com a vantagem de reduzir a evaporação da água, uma das principais preocupações na região, além de gerar energia.
Flutuadores instalados em 2019 já passaram por 16 metros de variação de nível
A KWP utiliza polietileno de alta densidade com tratamento UFV, que é reciclável, no flutuador Hydrelio, fabricado com tecnologia da Ciel et Terre, em parceria com a Unipac. No Brasil, a tecnologia já foi implantada em diversos projetos, incluindo a Fazenda Figueiredo em 2018, o projeto piloto na UHE Sobradinho, na Bahia, em 2019, e um projeto piloto da EMAE, que culminou na implantação da UFF Araucária em 2024.
Em Sobradinho, a usina flutuante de 1 MW, instalada em 2019, já passou por uma variação de nível de 16 metros sem sofrer danos, destacou Cardoso Jr.
Potencial de 43 GW ocupando 1% da superfície de corpos d’água artificiais
Cientistas brasileiros calcularam o potencial de geração solar flutuante no Brasil, assumindo apenas 1% de área coberta de corpos de água artificiais. Os resultados mostram um potencial instalado de 43 GW para todo o Brasil, com o estado de MG liderando com 6 GW, seguido por BA com 4,59 GW e SP com 3,87 GW.
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