Empregos gerados por energia solar precisam ser mais inclusivos, alerta Revolusolar

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Uma pesquisa realizada pela Revolusolar em parceria com a Secretaria de Trabalho e Renda (STR) da prefeitura do Rio de Janeiro revelou que os empregos e a geração de renda ligados ao setor solar no estado do RJ estão concentrados em poucas empresas. Além disso, os resultados preliminares da pesquisa, divulgados no Planetário do Rio de Janeiro na última terça-feira (26/03), apontam para a necessidade de aumentar a oferta de qualificação não apenas em áreas técnicas, como também comportamentais.

“Recentemente o Brasil chegou a 1,1 milhão de empregos acumulados no setor de energia solar, o que nos motivou a buscar entender melhor esse cenário”, pontuou o diretor da Revolusolar, Eduardo Ávila.

“Percebemos a dificuldade na posterior contratação após a capacitação. A partir de um diagnóstico fornecido pela pesquisa, podemos propor recomendações de políticas públicas”, adicionou a coordenadora de Relações Institucionais e Governamentais da Revolusolar, Graziella Albuquerque.

Diagnóstico dos empregos solares no RJ

A pesquisa revelou que 27% das empresas participantes da pesquisa concentraram 82% dos empregos, com 403 funcionários. Além disso, 71% das empresas foram fundadas nos últimos seis anos, um crescimento associado ao avanço da pauta da transição energética nos últimos anos, da regulamentação, da evolução tecnológica e da queda de custos.

A área com maior remuneração é a de Engenharia, com 31% ganhando acima de 5 salários mínimos, enquanto a área de Instalação mostrou a menor remuneração, com todos os trabalhadores ganhando até 4 salários mínimos, e 87%
ganhando até 3 salários mínimos.

Engenharia, Comercial e Instalações são as principais áreas de especialização demandada pelas empresas. Entre os principais desafios encarados pelas empresas que contratam estão a falta de conhecimento técnico e certificação, falta de aplicação prática dos conhecimentos e competências comportamentais.

Habilidades interpessoais como capacidade de aprendizado, gestão emocional e comunicação foram as  mais citadas entre as competências mais valorizadas para contratações. Em seguida, as empresas citaram conhecimentos em Vendas, Instalação e Manutenção de Sistemas Solares; Eletricidade e Eletrônica; e Regulamentação e Normas.

Neste sentido, a Coordenadora do GT Cidades Sustentáveis da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável, Patrícia Sousa, destacou a necessidade de desenvolver competências emocionais para apoiar a transição verde, através dos Objetivos de Desenvolvimento Interno (IDGs, na sigla em inglês para Inner Development Goals), uma série de habilidades desejáveis  para pessoas que atuam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. “A maior parte das demissões ocorre pela dificuldade de atender necessidades emocionais do ambiente de trabalho”, pontuou.

Recomendações para ampliar inclusão

A concentração de empregos e receita em uma parcela menor das empresas que atuam no setor solar no estado aponta para a necessidade de incentivos fiscais, por exemplo, para as pequenas empresas.

Além disso, entre as recomendações para o poder público estão a liderança pelo exemplo, com mais geração solar distribuída em prédios públicos; articulação com a esfera federal; criação de cursos de formação técnica; além da inclusão do tema na educação básica; o fomento às pequenas empresas e a criação de uma governança energética municipal.

O poder público, vale lembrar, tem uma participação inferior a 1% nos sistemas de geração distribuída, tanto no  Brasil quanto na cidade do Rio de Janeiro. O município migrou para o mercado livre de energia com contratação de energia renovável, em setembro de 2023, com economia esperada de 20%, a princípio para unidades de saúde do município.

“É um objetivo da prefeitura do Rio de Janeiro ter em uma das Centrais do Trabalhador, possivelmente a da Ilha do Governador, para ter como um equipamento público sustentável com energia solar”, disse o gerente de Empregos Verdes da STR, Allan Marchiori. A diversidade é um desafio em relação aos empregos verdes, cuja maior parte é ocupada por homens, adicionou Marchiori.

O secretário de Trabalho e Renda, Everton Gomes, apontou a oportunidade de direcionar os empregos criados para grupos excluídos do mercado de trabalho. “A digitalização e a emergência climática vão acabar com indústrias, mas ao mesmo tempo vão criar novas oportunidades”, disse. “Temos um dependência extrema da economia de petróleo e, sem desmerecer a sua importância, precisamos pensar e nos preparara para esse novo mundo que se abre agora”.

“É necessário um pacto para que esses empregos verdes abarquem as mulheres negras periféricas, que são frequentemente as mantenedoras de famílias, que pagam as altas contas de energia. A energia solar é mais benéfica para os  mais pobres, para quem pesa mais o custo da energia. No Chapéu Mangueira, fomentou o turismo e fomenta a economia local porque o dinheiro que as famílias economizam, elas gastam nos serviços e comércios locais. Isso já está acontecendo, é só fomentar”, disse o embaixador comunitário da Revolusolar, Dinei Medina, que atua promovendo a tecnologia nos territórios do Chapéu Mangueira e Morro da Babilônia.

As contas de energia e gás correspondem a mais da metade da renda de 46% dos brasileiros, segundo uma pesquisa do Instituto Clima e Sociedade, de 2021, lembrou o diretor da Revolusolar, Eduardo Ávila. A Revolusolar defende a criação de mais mecanismos de financiamento para esse público. Além disso, adiciona Ávila, a revisão das concessões das distribuidoras nos próximos anos, que atendem a mais de 60% do mercado, pode ser uma oportunidade para estabelecer metas de acessibilidade e qualidade da energia fornecida para essas famílias, destacou Ávila.

“O Brasil precisa ir além da transição e buscar uma transformação. Energia é um meio e não um fim. Considerar questões de gênero e classe é fundamental para uma transição energética justa e inclusiva”, disse a coordenadora da Revolusolar, Graziella Albuquerque.

Solar social como modelo para países do G20

A Revolusolar capacita as populações de territórios de baixa renda para instalação e manutenção de sistemas solares, através de cooperativas. A organização tem o objetivo de estar presente em 100 territórios no Brasil até 2025. A capacitação técnica e profissional, aliada à atividades de educação e cultura, promove o envolvimento da população local em todas as fases dos projetos e busca fomentar a autonomia e protagonismo da comunidade.

O presidente do Comitê do G20 no Rio de Janeiro, Lucas Padilha, disse que “a Revolusolar passa a ser uma solução mais global quando está no Rio, a Capital do G20. É uma  solução que pode ser parte de um ‘toolkit‘ [‘caixa de ferramentas’] para outros países em suas transições energéticas”.

Ele destacou que o Rio de Janeiro será palco do G20, reunindo líderes mundiais em torno de temas como a criação de empregos verdes. Em junho, a capital receberá um evento da Future Investments Iniciative, “com trilhões de fundos buscando onde investir” disse Padilha, indicando que soluções como a solar social podem encontrar apoio de fundos voltados para a transição verde.

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