Para muitos arquitetos, a energia solar surge apenas após a concepção de seus projetos e, geralmente, com soluções apresentadas por outros profissionais. O resultado, na maioria das vezes, desagrada o arquiteto que sente que seu projeto original foi comprometido por elementos “invasores”.
O que acontece é que, para que a solução agrade o arquiteto e esteja em harmonia com o projeto original, o melhor caminho é que a energia solar seja contemplada já no projeto original. Simples assim.
Além disso, usar energia solar é uma realidade sem volta e a geração junto a carga é a melhor opção para os consumidores residenciais e comerciais. Mesmo que uma nova edificação ainda não tenha energia solar, há uma grande chance de, em um futuro breve, vir a ter.
A boa notícia é que os módulos fotovoltaicos não se resumem a grandes retângulos pretos ou azuis, pesados e distantes esteticamente dos materiais de revestimento e de cobertura mais desejados pelos arquitetos e consumidores.
A cada dia, surge uma nova solução focada na resolução de algum desafio da construção civil, tal como melhor vedação, melhor desempenho térmico, melhor encaixe, melhor luminosidade, mais beleza, mais leveza. Ou seja, é possível projetar novas edificações concebendo o projeto com energia solar e evitando interferências futuras que possam descaracterizar o conceito arquitetônico original.
Como na arquitetura o processo projetual costuma começar com uma busca de referências e inspirações, separei alguns projetos que gosto de apresentar para meus clientes para que possam compreender a liberdade que a energia solar nos permite no campo criativo. Assim, construímos juntos o nosso objetivo e podemos realizar um projeto de arquitetura solar de acordo com expectativas reais e bem embasadas.
Inspiração de fachada solar colorida
A Escola Internacional de Copenhagen, na Dinamarca, é um dos exemplos mais interessantes de edifícios com o sistema BIPV em fachada. A integração da energia solar aconteceu desde a concepção do projeto e sua obra foi inaugurada em 2016. Neste projeto, os arquitetos adotaram módulos fotovoltaicos esverdeados com efeito metalizado, cobrindo 6.000 m². A instalação dos módulos foi feita de tal maneira que ao incidir a luz do sol, temos a impressão de um efeito lantejoulas, ou seja, parece que a fachada é multicolorida. Este efeito, inclusive, se tornou a principal característica desta edificação e demonstra um excelente resultado da escolha da tecnologia valorizando a arquitetura.
A cidade de Copenhagen está situada na latitude 55.6° N e, nesta condição, a geração anual dos 700 kWp instalados nas diferentes faces da edificação é capaz de gerar 500 MWh ao ano, o que corresponde a 50% do consumo energético da escola.
Inspiração de cobertura fotovoltaica semitransparente
O projeto da loja conceito do McDonald’s em Orlando é meu exemplo preferido quando se fala de cobertura semitransparente. Eu já o utilizava em aulas e palestras e depois que o visitei passei a gostar mais ainda. Neste projeto, realizado pelo escritório Ross Barney Architects, a energia solar foi a grande protagonista da cobertura, a qual é composta por dois tipos de módulos: uma parte com módulos convencionais e outra com módulos semitransparentes.
Os módulos convencionais foram adotados na maior porção da cobertura, a qual cobre toda a área interna do restaurante e mais uma grande área aberta nos fundos da edificação. Esta cobertura possui aproximadamente 1.700 m² e é capaz de gerar 600 MWh/ano.
Já os módulos semitransparentes foram adotados na área externa do restaurante, em uma varanda. O resultado foi um espaço muito gostoso, que traz uma sensação de bem-estar ao colocar o usuário em contato com a luz natural de forma controlada e agradável. Esta parte da cobertura possui 446 m² e é capaz de gerar 70 MWh por ano.
Inspiração de brises fotovoltaicos verticais
Brises fotovoltaicos são estratégias que otimizam tanto a eficiência energética de uma edificação quanto o aproveitamento inteligente da luz solar para geração de energia. Ao multiplicar funções em um elemento arquitetônico, conseguimos otimizar soluções e trazer mais benefícios ao cliente.
Gosto de apresentar o projeto de brises que fizemos para o Instituto Germinare, na cidade de São Paulo. Neste projeto, tivemos uma séria questão de limitação de peso nas fachadas, por isso, a solução adotada utilizou filmes finos flexíveis. Com apenas 2,6 kg/m², foi possível instalar 564 módulos, totalizando 70,5 kWp nas fachadas. Este sistema é capaz de gerar 49 MWh por ano.
Inspiração de módulos fotovoltaicos bifaciais como vedação
O Laboratório Fotovoltaica/UFSC, localizando em Florianópolis, em si é uma vitrine de diversas possibilidades do uso de módulos solares integrados a edificações. Neste artigo, quero destacar o uso de módulos bifaciais no prédio novo, inaugurado em agosto de 2023.
Neste projeto, pudemos explorar diferentes aplicações dos módulos bifaciais, os quais foram usados nas coberturas e nas fachadas, ora como vedação, ora como brises e até mesmo como peitoris, totalizando 189 kWp de potência instalada.
Aceite o desafio!
A adoção de soluções fotovoltaicas inovadoras e esteticamente agradáveis transforma o desafio da integração solar em uma oportunidade para explorar novas possibilidades criativas, garantindo projetos sustentáveis, eficientes e alinhados com as aspirações dos clientes e as necessidades do futuro. Assim, ao considerar a energia solar como parte integrante do processo criativo, os arquitetos podem liderar o caminho para uma arquitetura que não só atenda às demandas energéticas de forma sustentável, mas que também eleve o padrão estético e funcional das edificações, demonstrando que a sustentabilidade pode andar de mãos dadas com a beleza e a inovação.
Serviço especializado no Brasil
Se você deseja um projeto de arquitetura solar ou uma consultoria, entre em contato (clarissa@arquitetandoenergiasolar.com.br). Podemos te auxiliar, do projeto à execução, em todas as soluções para coberturas e fachadas.
Clarissa Zomer é arquiteta, doutora em Engenharia Civil, especialista em sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura. Atuou como pesquisadora do Laboratório Fotovoltaica UFSC por 17 anos e em 2020 fundou a Arquitetando Energia Solar para prestar consultorias, realizar projetos, e oferecer cursos e palestras sobre arquitetura solar. Foi responsável por grandes projetos BIPV, como o próprio Laboratório Fotovoltaica UFSC, por estudos de viabilidade técnica BIPV, como o Mineirão Solar e a Megawatt Solar da Eletrosul e, recentemente, como os Brises Fotovoltaicos do Instituto Germinare. Possui mais de 60 MWp de projetos de sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura e mais de 50 artigos publicados em revistas internacionais, nacionais e em congressos. Clarissa é também Diretora de de BIPV – Fotovoltaica na Arquitetura e Construção da ABGD e Diretora de Projetos Arquitetônicos da Garantia Solar BIPV.
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