A Genyx, distribuidora de equipamentos fotovoltaicos com sede em Contagem, Minas Gerais, atua desde 2022 junto à cadeia de reciclagem de módulos solares no Brasil. A empresa oferece aos seus integradores e parceiros a coleta gratuita de painéis danificados em todo o Brasil, tendo sido responsável pela destinação de mais de 260 painéis – com custo estimado de R$ 269 mil – à SunR Reciclagem Fotovoltaica, empresa brasileira especializada na logística reversa e destinação de equipamentos fotovoltaicos responsável pelo recebimento, triagem e beneficiamento do material fotovoltaico.
O diretor de produtos e tecnologia da distribuidora mineira de soluções fotovoltaicas Genyx, André Hipólito, contou à pv magazine que a reciclagem de módulos e inversores danificados está alinhada à cultura da empresa desde sua fundação. “Se a gente não fizer o que deve ser feito, de forma correta, estaremos agindo errado”, explica Hipólito.
Defeitos físicos são os principais motivos para a reciclagem
“A maior parte dos módulos que enviamos para a reciclagem apresentam algum defeito físico, alguma batida ou avaria que ocorre durante o transporte. Outras vezes a gente já recebe módulos da China com leves defeitos e, dependendo desse defeito, ele nem vai para o mercado, pois encaminhamos diretamente para a reciclagem. Apesar de sabermos que ele teria uma vida útil longa gerando energia, não podemos vender algo que sabemos que está danificado”, comenta o diretor da Genyx.
De acordo com Hipólito, outro incidente comum acontece durante a chegada dos módulos para a entrega no cliente. “Na nossa operação, os módulos não são inclinados, jogados ou empurrados, pois nossos caminhões possuem uma rampa móvel de carga que desce para facilitar a entrega ao cliente. Algumas vezes, o local de entrega é que não é adequado, e quando a cinta que prende os módulos arrebenta, o módulo cai e acontece a avaria”.
O executivo explica que quase não há casos de reciclagem por defeitos de funcionalidade, já que a empresa possui um sistema de monitoramento que identifica a eficiência dos módulos e, caso esse defeito seja identificado, o módulo é trocado antes da entrega ao cliente. “Também realizamos o monitoramento dos sistemas ou recebemos um alerta. Por exemplo, se nosso setor de SAC é alertado sobre uma usina que não está com eficiência que deveria estar, e, se identifica a falha na eficiência, trocamos para o cliente”.
Em relação à Comissão de Infraestrutura do Senado, que vem debatendo o projeto de lei que institui Logística Reversa para painéis solares, Hipólito explica que quando o fabricante tem escritório no Brasil, a responsabilidade sobre a coleta e o reaproveitamento dos materiais descartados é dele. “Em outros casos, quando ele não tem escritório aqui no Brasil, a responsabilidade é do importador. Um importador que, na maioria das vezes, é o distribuidor. Normalmente fazemos um acordo com o fabricante, que no caso de troca por problemas de qualidade, o custo desse transporte é dele. Já no de mau uso ou problemas na instalação, a responsabilidade por conversar com o cliente para acertar os detalhes é nossa”.
Reciclagem em alta e aproveitamento dos materiais dos módulos
A SunR é a primeira recicladora fotovoltaica da América Latina e atua há três anos como uma central de recebimento, triagem e unidade de beneficiamento de material fotovoltaico. Em 2022, a empresa cresceu 700% no volume de material recebido e já recebeu mais de 25 mil painéis, o equivalente a 730 toneladas de material. A SunR não faz a extração química dos metais valiosos, vende os componentes para indústrias interessadas em realizar o processo.
Por meio de parcerias como a estabelecida com a Genyx, a empresa evita a chegada desses equipamentos a aterros sanitários do país. Não é cobrado nenhum valor pela SunR para a realização do descarte. A Genyx precisa somente transportar os equipamentos para a filial da SunR em Vinhedo/SP.
O painel solar fotovoltaico, pela sua constituição, tem potencial reciclável muito próximo de 100% – as estimativas hoje variam de 95% a 99%, já que são compostos majoritariamente por vidro (70%) e alumínio (18%), dois materiais altamente recicláveis e com tecnologias já desenvolvidas e utilizadas por toda a parte do mundo. Em proporções reduzidas, as placas também contêm metais valiosos, como prata e cobre, silício, além de chumbo e estanho.
Composição do painel solar
Percentual | Componente |
70% | Vidro (contendo antimônio) |
18% | Alumínio da moldura |
5,1% | Polímero EVA (película encapsulante) |
3,65% | Silício metálico (célula solar) |
1,5% | Fluoreto de polivinila (fundo protetor) |
1% | Cobre e polímero dos cabos |
0,53% | Alumínio do condutor interno |
0,11% | Cobre do condutor interno |
0,11% | Prata e outros metais (chumbo, cádmio, estanho, etc.) |
Fonte: De Souza, N.M. Etal . Social Sciences & Humanities Open 2023
Os painéis solares têm uma vida útil média de 25 anos. E não é de hoje que o setor está atento ao que vai acontecer com esses equipamentos quando eles forem descartados e substituídos por outros novos.
Um relatório da International Renewable Energy Agency (IRENA) sobre o gerenciamento da vida útil dos painéis solares fotovoltaicos, divulgado em 2016, estimou que a quantidade de lixo anual proveniente desses equipamentos em 2030 alcançará entre 1,7 milhão e 8 milhões de toneladas no mundo. Em 2050, esses resíduos podem ser da ordem de 78 milhões de toneladas. A IRENA também estimou que o valor dos materiais recuperados nesses equipamentos após a reciclagem pode chegar a US$ 450 milhões em 2030, quantia suficiente para a produção de 60 milhões de painéis solares. Em 2050, o valor pode chegar a US$ 15 bilhões, suficientes para 2 bilhões de placas.
Há outros estudos que estimam 200 milhões de toneladas de painéis solares descartados globalmente em 2050. Para se ter a dimensão do que isso quer dizer, o mundo produz 400 milhões de toneladas de plástico todos os anos.
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