A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) contesta o Operador Nacional do Sistema (ONS) em relação a publicação do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) nº 00012/2023 pelo Operador Nacional do Sistema no dia 19/10, que trata das causas do apagão de 23.368 MW de carga ocorrido no dia 15/08.
Diante das conclusões apresentadas no RAP-ONS 00012/2023, a Absolar entende que “responsabilizar certas usinas eólicas e solares para o controle de tensão no SIN é uma conclusão simplória e equivocada”, segundo comunicado da associação.
No dia 17/10, a Absolar encaminhou ao ONS um relatório técnico com uma série de contestações referentes às afirmações, inferências e referências do RAP-ONS nº 00012/2023, que apresenta os resultados da análise da perturbação ocorrida no Sistema Interligado Nacional (SIN) no dia 15 de agosto de 2023. Adicionalmente ao relatório enviado ao ONS, a Absolar solicitou reunião técnica para uma discussão mais ampla e aprofundamento dos temas.
Em seu relatório final, o ONS afirma que a abrupta redução de tensão observada, após a perda de uma linha de transmissão foi consequência do desempenho inesperado das usinas eólicas (EOLs) e das usinas solares fotovoltaicas (UFVs), que apresentaram comportamento aquém dos modelos matemáticos encaminhados pelos agentes, que são utilizados pelo operador nos seus estudos.
“Assim, a diferença entre o desempenho em campo e as simulações não permitiu ao ONS identificar os riscos relacionados ao cenário operativo pré-distúrbio, que resultou nos desligamentos em cascata após a abertura da LT 500 kV Fortaleza II – Quixadá, destacando que é com base em exaustivas simulações e estudos que o ONS cumpre o seu papel institucional de garantir a segurança no suprimento de energia no país. Desta forma, é imperativo que os modelos dinâmicos na base de dados representem fidedignamente o desempenho dos equipamentos e dos controles implementados em campo de todas as usinas com relacionamento direto com o Operador”, diz o RAP.
A Absolar aponta que a indisponibilidade parcial ou total de compensadores estáticos e síncronos do SIN que atuam no controle de tensão de forma ágil e automática ficou em segundo plano no RAP, direcionando a responsabilidade pelo controle da tensão da rede básica para as EOLs e UFVs.
No dia da ocorrência, destaca a associação, os requisitos da solar fotovoltaica foram extrapolados e, no início da manhã, a fonte somava 3.211 MW de geração, para suportar bruscas variações de tensão e frequência, diante de uma rejeição de carga de 12.303 MW.
Além disso, a associação alerta para a falta ou baixa qualidade de dados, que impedem análises mais detalhadas das atuações das proteções e dos desligamentos de equipamentos ocorridos.
No relatório, o ONS destaca que “a perturbação em pauta se insere num contexto dos aprendizados associados à transição energética, desafiando os operadores de sistemas elétricos por todo o mundo. A cada desafio, novos aprendizados emergem e novas soluções são desenvolvidas. Neste sentido, entende-se que as lições aprendidas com essa ocorrência, bem como as medidas que estão sendo implantadas no Brasil para que o país mantenha a capacidade de integrar as fontes renováveis com segurança e qualidade no suprimento, irão contribuir para mitigar os riscos de perturbações desta natureza”.
Estudo de integração de fontes renováveis variáveis na matriz elétrica do Brasil
A maior presença das fontes renováveis na matriz elétrica nacional é ambientalmente desejável, tecnicamente sólida e economicamente viável, conforme demonstrou o projeto “Sistemas Energéticos do Futuro: Integração de Fontes Variáveis de Energia Renovável na Matriz Elétrica do Brasil”. Os estudos concluíram que é possível aumentar significativamente a participação das fontes solar e eólica na matriz elétrica d0 país para mais 40%, mantendo a confiabilidade, segurança e estabilidade, com equilíbrio técnico e econômico para a expansão e operação, do sistema elétrico brasileiro. Considerando apenas a geração centralizada, essa participação é de menos de 20% atualmente.
A iniciativa foi fruto de três anos de intensos trabalhos técnicos de especialistas do setor eanalisou, em detalhes, a inserção de grandes quantidades de energia dessas fontes renováveis na matriz elétrica brasileira, e contou com participação do Ministério de Minas e Energia (MME), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Operador Nacional do Sistema (ONS), em parceria com a entidade do governo alemão Deutsche Gesellschaftfür Internationale Zusammenarbeit (GIZ).
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