Em um cenário hipotético, 2 empresas com operações similares faturaram R$ 5 milhões 2021. A empresa A projetou 40% de crescimento para 2022 e a B, com metas mais ousadas, 150%. Ao final do planejamento estratégico, cada uma estabeleceu metas, atividades e investimentos, conforme suas projeções. O ano de 2022 acabou e os resultados foram: empresa A com R$ 7,5 milhões e B com R$ 9 milhões. Outros indicadores precisam ser avaliados para definir o sucesso de uma empresa, como margem, custos, recorrência, novos clientes, avanços no marketing, etc. Porém, avaliando apenas estes dados oferecidos no cenário hipotético, qual das duas empresas teve melhor resultado?
É de extrema importância avaliar que cada empresa investiu seus recursos para atingir as metas do ano, comprou mais itens para estoque, investiu em marketing, contratou mais pessoas, participou de eventos, adquiriu novas ferramentas e, eventualmente, tomou capital em empréstimos. A primeira empresa atingiu 107% da sua meta de faturamento e a segunda, apesar de ter um resultado maior, chegou em apenas 72%.
O ano de 2023 trouxe dificuldades para as empresas de energia solar, fabricantes, distribuidores, integradores e prestadores de serviços. Comentários como “o mercado caiu muito” ou “os clientes não compram” estão no nosso dia a dia. Avaliando dados da ANEEL, em 2021 foram homologados 4,7 GW em GD, sendo que 85% deste volume estava em projetos de microgeração (até 75 kW). Em 2022 foram 8,2 GW, com 86% de projetos menores que 75 kW. Entre janeiro e setembro de 2023 foram homologados 5,8 GW. Avaliando o histórico dos últimos trimestres de 2021 e 2022, há aumento na potência instalada no último trimestre de 47% e 38%, respectivamente. Fazendo uma projeção de acréscimo de 40% para o último trimestre de 2023 chegamos ao número de 8,1 GW em 2023 (2% menor que 2022). Nesta mesma metodologia, os sistemas de 75 kW devem ter redução de 3% e os projetos entre 76 kW e 150 kW aumento de 29%.
Um planejamento estratégico precisa ser realista e avaliar também questões externas como câmbio, economia brasileira e mundial, concorrentes, novas tecnologias e comportamento dos consumidores. Uma parcela considerável das empresas trabalha apenas nos esforços internos ou pensa nos externos de forma superficial, negligenciando seus impactos na operação.
O preço internacional dos módulos de silício cristalino teve redução de cerca de 25% nos últimos 12 meses e o a cotação do dólar, de 15% no mesmo período. Somadas, estas variáveis resultam em redução nos custos de importação de kits em mais de 20%. Além disso, o nível de desconto oferecido aos clientes aumentou, seja por grande volume de estoques nos distribuidores ou pela maior concorrência com novos entrantes. Mais de 50% das empresas que atuam com energia solar entraram no mercado nos últimos 3 anos. Assim, a quantidade de sistemas que uma empresa precisou vender em 2023 foi ainda maior que o percentual de faturamento planejado, uma vez que os valores médios e margens caíram.
Adicionalmente, a influência do cenário econômico e político do país impactaram no percentual de sistemas adquiridos por financiamentos, que caiu de 57% para 22%, resultado da menor disponibilidade de crédito e taxas de juros mais altas. Será que a aprovação da Lei 14.300 teve tanto impacto na demanda por energia solar?
Realizar o planejamento estratégico de forma cautelosa, avaliando fatores internos e externos, variáveis de mercado, economia e não apenas ações internas são fatores chave de sucesso para qualquer empresa. Quando consideramos um mercado novo e em expansão, esse assunto é potencializado. O aprendizado de 2023 está sendo muito grande e as empresas precisam perceber que o crescimento deve acontecer de forma sustentável. É necessário investir em pessoas, treinamentos e conhecimento para formar uma base sólida, evitando negligências. Essa etapa de desafios também será uma etapa de profissionalização do setor, onde os líderes estão aprendendo mais sobre gestão e que o planejamento não pode ser feito considerando apenas os seus desejos.
Pedro Drumond Junior é Coordenador da ABSOLAR e diretor executivo da RH Renováveis, empresa especializada em contratações e serviços de gestão de pessoas para o mercado de energia. Engenheiro eletricista, mestre e doutorando em Planejamento Energético, trabalhou por 10 anos no setor elétrico e atua com energia solar desde 2015.
REFERENCIAS UTILIZADAS
PV Price Index. Disponível em: https://www.pvxchange.com/Price-Index
GREENER. Estudo do mercado de geração distribuída 2023. Disponível em: https://www.greener.com.br/estudo/estudo-estrategico-geracao-distribuida-setembro-2023-dados-do-1o-semestre-2023/
ANEEL 2023. Power BI ANEEL para Geração Distribuída. Disponível em:
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