A Helexia, empresa de origem francesa que atua em geração distribuída e adquirida em 2019 pela Voltalia, tem 400 MWp de projetos de geração remota para entregar no Brasil nos próximos anos, ainda enquadrados nas regras de compensação de créditos de energia anteriores à Lei 14.300 (GD I). A companhia já fechou contratos para 270 MWp desse potencial, incluindo um acordo take or pay com a Vivo, que envolve a entrega de 87 MWp distribuídos em usinas de minigeração em diversos estados.
“É um mercado que teve um desenvolvimento significativo e que certamente não morreu com a nova lei. O fato de EDP, Energisa, Cemig, essas distribuidoras estarem também participando do mercado e adquirindo empresas de GD demonstra isso. A geração distribuída faz cada ator repensar o seu papel no setor energético brasileiro”, comenta o CEO da empresa no Brasil, Aurelién Maudonnet.
A companhia está finalizando a primeira porção de projetos para atender o contrato com a Vivo, através do qual a empresa de telecomunicação se compromete a consumir a energia gerada pelas miniusinas. Serão 25 MWp entre os estados de Rondônia, Mato Grosso do Sul e Paraná. Essa primeira porção foi financiada pelo BNDES sob a estrutura de project finance, o produto mais atrativo do banco, suportado contratualmente pelo fluxo de caixa do projeto e tendo como garantias seus ativos e recebíveis.
E a maior parte dos 270 MWp já negociados também deve ser conectada até o final de 2023, diz Maudonnet. Ele admite que a disponibilidade de empresas para construção das usinas nesse prazo é um desafio e a Helexia adotou a estratégia de buscar parceiros regionais para prestar esse serviço.
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Desafio na construção e prazos
Alguns dos projetos no pipeline da empresa ainda não tiveram o parecer de acesso emitido, mesmo tendo protocolado os pedidos antes da entrada em vigência da Lei 14.300 e mudança das regras de compensação. Isso significa que o prazo de construção de até 12 meses para a conexão dos projetos ainda não começou a contar, em alguns casos, e até 2024 ou mesmo início de 2025 as miniusinas ainda poderão ser conectadas garantindo o enquadramento na GD I.
“Projetos de geração distribuída são mais espalhados e o tempo de construção é muito curto. Um projeto de geração centralizada pode absorver um sobrecusto no capex, mas GD, com um orçamento enxuto, não tem tanto espaço para absorver aumento no capex”, comenta. Ele diz que a Helexia conta com uma equipe dedicada a fazer o acompanhamento do EPC contratado para os projetos.
“Há uma falta de profissionalismo, empresas epecistas que aceitam mais demanda do que conseguem entregar, não têm uma boa gestão financeira. Por um lado, é uma oportunidade porque tem espaço para boas empresas de EPC ou construção civil entrarem para atender essa demanda”, diz.
Potencial a ser explorado na telefonia
Na mira da empresa estão os consumidores comerciais e até mesmo o nicho de telefonia, um dos primeiros a aderir à geração distribuída remota, ainda pode representar uma demanda importante, avalia Maudonnet.
“As empresas do ramo de telecomunicação subestimaram a necessidade de energia, a demanda será muito grande para atender o 5 G. Muitas que fizeram anteriormente agora querem estender contratos, a demanda é maior do que imaginavam”, comenta.
A Helexia decidiu focar no Brasil em geração remota, que oferecia os melhores retornos, conta o executivo. Mas a empresa não descarta no futuro voltar-se a projetos junto à carga, ou até mesmo projetos de geração compartilhada. De acordo com Maudonnet, neste momento a Helexia poderia também atender a alta demanda de empresas que já têm consumidores interessados na geração compartilhada, mas ainda não têm os projetos.
“Esses projetos da GD I são imbatíveis do ponto de vista do preço. Claro, tem que fazer uma análise estado por estado. E, ao mesmo tempo estão aumentando as tarifas, o que também aumenta a atratividade”, acrescenta.
Além das instalações de GD, a empresa oferta serviços de gestão de energia e eficiência energética e fechou um contrato com uma empresa varejista no Rio de Janeiro para a plataforma Helexia Hub, de medição inteligente e individual de consumo.
Por esse motivo, a empresa está buscando consumidores comerciais com alta demanda, como é o caso da Vivo, cujos gastos anuais com energia ultrapassam a casa dos R$ bilhões. Afinal, esses podem ser potencialmente clientes das soluções de eficiência.
Balcão único
Para Aurélien, por sinal, é uma tendência que as empresas do setor de energia se posicionem como plataformas de balcão único para atender os consumidores de energia com diferentes soluções. “Quem entende essa estratégia entendeu tudo. Por isso empresas comercializadoras e grandes geradoras estão indo para GD, por isso a Voltalia adquiriu a Helexia, e precisa de uma comercializadora para atender no mercado livre”, comenta.
Essa máxima é válida especialmente para consumidores de energia com múltiplas unidades consumidoras, de diferentes portes. “Os consumidores de baixa tensão não vão conseguir migrar [para o mercado livre, que será liberado para todos os consumidores da alta tensão a partir de 2024]. Podem demorar ainda alguns anos e muitos podem optar por nunca migrar. Para esses consumidores a geração distribuída continuará sendo uma boa opção”, diz o executivo.
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