A diretoria executiva da Petrobras aprovou, em reunião realizada na última quinta-feira (06/04), uma proposta de reajuste organizacional da empresa, que inclui a criação de Diretoria Executiva de Transição Energética e Energias Renováveis. Maurício Tolmasquim, que foi presidente da EPE, foi apontado para assumir a diretoria, que coordenará as atividades de descarbonização, mudanças climáticas, novas tecnologias e sustentabilidade e deve incorporar as atividades comerciais de gás natural.
Em apresentações institucionais, a Petrobras aponta que o foco de descarbonização está na captura e reinjeção de CO2 e na redução da intensidade de emissões nos segmentos E&P e refino.
O atual plano estratégico da empresa prevê um capex total de US$ 78 bilhões no período entre 2023 e 2027, dos quais US$ 4,4 bilhões (6%) para iniciativas de baixo carbono. Desses, US$ 3,7 bilhões iriam justamente para iniciativas de descarbonização da produção e refino, US$ 600 milhões para o biorrefino e US$ 100 milhões para P&D sobre atividades não ligadas à operação e diversificação rentável, que inclui estudar a exploração de eólicas offshore, produção de hidrogênio de baixo carbono.
A maior parte do capex previsto, US$ 64 bilhões (83%), será destinada para atividades de exploração e produção de petróleo. No período, a produção total operada pela empresa deve sair de 3,8 milhões boed em 2023 para 4,7 milhões boed em 2027.
A proposta de reorganização e criação da Diretoria de Transição ainda será submetida ao Conselho de Administração e inclui outras mudanças organizacionais, como o agrupamento das atividades de engenharia, tecnologia e inovação, sob uma mesma diretoria; e a concentração de atividades corporativas em uma área voltada à gestão da companhia. A proposta não deve aumentar o número atual das diretorias.
Transição energética na pauta do governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou a geração solar e eólica e o hidrogênio verde, bem como a expansão da produção no pré-sal em um pronunciamento durante reunião ministerial para fazer um balanço dos 100 primeiros dias de governo, nesta segunda-feira (10/04).
“A transição energética será acelerada. Vamos lançar editais para contratação de energia solar e eólica que, somados, representarão capacidade de geração equivalente à de nossas maiores usinas hidrelétricas. E os leilões para novas linhas de transmissão irão tornar ainda mais rápida e atrativa a implantação desses parques de energia limpa”, disse o presidente.
Ele também disse que o Brasil não perderá a oportunidade de se tornar uma potência global do hidrogênio verde.
Ainda, acrescentou que “a Petrobrás financiará a pesquisa para novos combustíveis renováveis. Ao mesmo tempo, retomará o papel protagonista nos investimentos, ampliando a frota de navios da Transpetro e gerando emprego em nossos estaleiros”.
Lei das estatais
A indicação de Maurício Tolmasquim, que fez parte do grupo responsável por energia na equipe de transição do governo Lula, para a nova diretroia de transição energética ocorre após decisão recente do Supremo Tribunal Federal.
O ministro do STF Ricardo Lewandowski suspendeu os efeitos de norma da Lei das Estatais que restringia indicações de conselheiros e diretores que sejam titulares de alguns cargos públicos ou que tenham atuado, nos três anos anteriores, na estrutura decisória de partido político ou na organização e na realização de campanha eleitoral.
De acordo com o ministro, houve uma sensível ampliação das exigências para a nomeação dos administradores dessas empresas, em comparação com as previstas na Lei das Sociedades Anônimas, à qual as estatais continuam submetidas. Na sua avaliação, a expansão dos requisitos visava assegurar que a administração das empresas públicas e sociedades de economia mista apresente o mais elevado grau de profissionalismo e eficiência.
No entanto, Lewandowski, apesar das intenções de evitar o aparelhamento político das estatais, a exigência acabou criando discriminações desproporcionais contra pessoas que atuam na esfera governamental ou partidária, sem levar em conta parâmetros técnicos ou profissionais que garantam a boa gestão.
Redução de emissões com menos despacho térmico
Em 2022, as operações da Petrobras emitiram 47,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e). Isso representou uma queda de 23% em relação a 2021, quando as emissões operacionais da companhia subiram após três anos consecutivos de queda.
O volume de 62 milhões tCO2e emitido em 2021 foi fortemente afetado pela alta demanda de despacho das termelétricas, solicitado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para garantir o fornecimento de eletricidade em um ano de crise hídrica.
Com o aumento do nível de água dos reservatórios das hidroelétricas, a demanda por geração termelétrica reduziu em 2022. O baixo despacho termelétrico em no ano passado, afetou significativamente o resultado da companhia em termos de emissões.
Alguns desinvestimentos de termelétricas concluídos ao final de 2021 e ao longo de 2022 também foram vetores para menor emissão de GEE.
Metas atuais
A Petrobras estabeleceu a meta de reduzir em 30% as emissões operacionais totais até 2030, em comparação com 2015 (78 milhões de tCO2e). Ou seja, o compromisso da Petrobras é não exceder 54,8 milhões de toneladas de CO2
em 2030. A compromisso meta pode não ser atingida se houver demanda acentuada por geração de eletricidade a partir das térmicas. Neste caso, o atingimento do compromisso considera a possibilidade de uso de créditos
de carbono.
A empresa ainda estabeleceu metas para os projetos de Captura, Uso e Armazenamento geológico de CO2, reajustadas para 80 milhões de toneladas de CO2 reinjetadas até 2025 – em 2022, foram de 10,6 milhões de toneladas de CO2 reinjetadas.
Novos investimentos em renováveis
A criação de uma diretoria de transição energética e energias renováveis pela Petrobras, aprovada na última semana pela empresa, é um importante passo para acelerar o processo de descarbonização das atividades produtivas com a redução de emissões de gases do efeito estufa na economia, além de uma forte sinalização da companhia no avanço das fontes renováveis no país. A afirmação é do presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Ronaldo Koloszuk.
Para o executivo, o direcionamento para novos investimentos em tecnologias de energias renováveis na Petrobras segue o movimento global verificado nas petroleiras nos últimos anos e está alinhado com os anseios da sociedade brasileira.
“A Absolar e o setor de energia solar parabenizam a diretoria da Petrobras pela iniciativa e, sobretudo, pela sinalização de um novo rumo no desenvolvimento sustentável da empresa, que tem influência direta na vida em sociedade no Brasil”, comenta.
“Vale lembrar que o consumo de combustíveis fósseis é a maior causa de emissões de gases de efeito estufa no mundo e a segunda maior no Brasil. E essa sinalização da Petrobras traz uma grande oportunidade para o Brasil voltar a se reindustrializar por meio de tecnologias sustentáveis de transição energética. Sabe-se que a idade da pedra não acabou por falta de pedra e que a era do petróleo não acabará por falta do petróleo. Tratam-se de um fato inquestionável e de um fenômeno irreversível no planeta”, acrescenta Koloszuk.
Para Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar, com a criação e fortalecimento de políticas públicas e estratégias privadas que promovam a transição energética, o Brasil pode se tornar uma liderança no combate às mudanças climáticas e na oferta de produtos e serviços sustentáveis ao mundo, bem como na atração de mais investimentos internacionais.
“O setor solar está pronto para contribuir de forma decisiva no processo de zerar as emissões na matriz, incluindo o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde, que poderá gerar milhares de novos empregos e consolidar o Brasil como protagonista mundial na descarbonização do planeta, bem como para garantir maior segurança energética ao país”, conclui.
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