Em março, o crescimento da geração distribuída no Brasil ultrapassou pela primeira vez no ano o ritmo de crescimento observado em igual período de 2022. Até 20/03, são pelo menos 1,49 GW adicionados em 2023 – os números mais recentes podem ser atualizados pela Aneel – contra 1,3 GW em igual período do ano passado.
O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Guilherme Chrispim, acompanha de perto os números e chamou a atenção da reportagem para a comparação, importante para sentir a temperatura do mercado neste primeiro trimestre, com a vigência da lei 14.300 e a posterior regulação da Aneel.
“Isso sinaliza para 2023 que apesar de tudo isso, de toda essa discussão. O mercado está muito aquecido, muito próximo e até um pouco acima do número de 2022, que já foi um ano muito bom”, disse Chrispim à pv magazine. “Vai ter quem diga que ‘só’ cresceu 12%, quando vinha crescendo 70%, 80% por ano. Mas uma hora não dá mais para você crescer nesse ritmo. Não tem gente, não tem equipamento, não tem rede. Não tem sistema que suporte esse ritmo de crescimento. Entendo que um crescimento de 8 GW já é excepcional”.
A ABGD trabalha com a projeção de que a geração distribuída cresça 8 GW em 2023. Mas essa projeção ainda reflete as condições anteriores à lei 14.300.
Consolidação na integração e na distribuição
A realidade da nova lei, deve ser sentida mesmo a partir de 2024, para quando é mais difícil projetar o volume de novas instalações. “Eu acredito que vai ter naturalmente no mercado uma consolidação em todos os níveis, de integrador a distribuidor. O mercado cresceu muito e ficou muito competitivo. Não dá para sustentar um negócio com um, dois sistemas por mês”.
A última pesquisa da Greener estimou, de forma conservadora, que 31 mil empresas integradoras estavam em atividade no Brasil em 2022.
A estimativa com a qual o mercado trabalha é que sejam 80 distribuidores de equipamentos fotovoltaicos em atividade no Brasil. Para Chrispim, o crescimento esperado do mercado não sustentaria a atividade desse número de empresas.
“Tem algumas particularidades que a gente precisa considerar. Por exemplo, em 2021, que cresceu 4 GB, muito significativo em período de pandemia, 56% dos sistemas de GD foram financiados. Já em 2022, foram 22%, e ainda assim o mercado cresceu quase o dobro em 2022, adicionando 8 GW”, cita Chrispim.
O cenário desafiador de crédito, com a Selic a 13%, deve levar as distribuidoras a se engajarem mais em criar soluções de pagamento para os clientes.
Ou seja, para sobreviver será necessário dispor de caixa, não só para atenuar as condições de financiamento para os clientes, como também para fazer gestão de estoques e garantir rapidez na entrega e variedade de opções.
“O ponto central desse negócio é gestão da logística. A decisão de compra é tomada um pouco pelo preço, um pouco pela qualidade do produto, mas também pela rapidez de entrega. É quase um just in time, ele precisa de estoque e tem que ter variedade. E isso custa. As empresas que conseguem fazer isso, ganham competitividade, porque os preços dos equipamentos são parecidos”, comenta o executivo.
Para Chrispim, entretanto, o mercado permanecerá muito regionalizado, com alguma demanda por serviços locais. Essa característica deve garantir a atuação de distribuidoras regionais, que podem atender demandas mais urgentes ou que tenham cultivado boas relações com integradores nas suas áreas de atuação.
“Por isso que os grandes fornecedores estão abrindo centro de distribuição logística em outras regiões, para poder atender. Senão começa a não ficar competitiva com o frete”, observa.
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